Sobre Gilberto de Macedo
A alma humana oscila, permanentemente, na bipolaridade dos afetos. Partícipes da História contemporânea vibramos com a vitória de Barack Obama, afro-descendente de origem humilde, nas recentes eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, imersos
Por | Edição do dia 11/11/2008 - Matéria atualizada em 11/11/2008 às 00h00
A alma humana oscila, permanentemente, na bipolaridade dos afetos. Partícipes da História contemporânea vibramos com a vitória de Barack Obama, afro-descendente de origem humilde, nas recentes eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, imersos na fogosa esperança de um mundo melhor. E isto, nos tempos atuais, passa necessariamente, queiramos ou não, pelo gigante norte-americano, o qual por nada deste mundo tornar-se-á bonzinho, versão paz e amor, pois logo voltará a rilhar os dentes e a apresentar as prepotentes garras, uma questão de circunstâncias. Por outro lado, no mesmo em que se definia qual o próximo ocupante da Casa Branca, enlutamo-nos com a perda do médico e professor Gilberto de Macedo. Sua morte confrangeu-nos a todos os seus alunos, colegas, confrades, clientes e amigos, seus companheiros nesta dimensão existencial. Certamente do mesmo modo entristeceu a todos quantos, pelo Brasil afora, conheciam a respeitável obra científica que ele nos legou. Considero o mestre que agora nos deixa como o pensador mais profundo da Medicina de Alagoas: um exponencial exemplar da nossa intelectualidade, dotado de um vastíssimo cabedal de conhecimentos científicos e de cultura humanística, capaz de abordar com amplitude a ciência hipocrática em suas relações com a Antropologia Cultural, a Sociologia e a Psicologia. Seu privilegiado enfoque teórico, sociocultural por excelência, levou-o a publicações notáveis no cenário nacional. E sendo especialista, não discorreu apenas sobre a psiquiatria, sua escolha profissional, mas sim sobre a Medicina como um todo. Títulos como Aculturação e Doença, Diagnóstico da Sociedade Tecnológica e A Universidade Dialética, dentre outros, engrandeceriam a bibliografia de qualquer pensador, bem como enriquecem o acervo das mais importantes e refinadas bibliotecas, ele que acreditava ser a relação médico-paciente a essência da Medicina. Sobre Gilberto de Macedo e sua obra, inúmeros autores de relevo opinaram. Citemos apenas Gilberto Freyre e José Leme Lopes ao falarem sobre a primeira das obras acima mencionadas: Um livro pioneiro, escreveu o sociólogo pernambucano; ... ficará na nossa literatura especializada, disse o eminente catedrático carioca. Observemos que Gilberto de Macedo, embora a sua dimensão supra-provinciana, não quis deixar as Alagoas. Na Academia Alagoana de Medicina, mestre Gilberto declama Olegário Mariano, admirador dos poetas que era: Eu sou um enamorado da vida! Quero viver todas as suas horas (...) para quando eu morrer, levar dentro dos meus olhos a beleza de tudo quanto amei. Como seu aluno colhí os seus ensinamentos. Como colega, recebi a sua honrosa consideração e, posso dizer, privei da sua seleta amizade. (*) É médico e professor da Uncisal.