No olhar de quem nos ama

O conceito de sucesso, em sua essência, se adapta ao ritmo da vida e ao compasso do tempo. Quando bem jovem, para mim costumava se vestir de conquistas visíveis, uma corrida, muitas vezes, frenética, em busca de reconhecimento pessoal ou aplauso externo.

Lembro quando, em minha meninice, participando de festinhas improvisadas nas garagens de casa, iluminadas por algumas lâmpadas “negras”, sob o som estalado das radiolas, dançava com amiguinhas da rua em que morava.

Sempre ao término das aulas nas manhãs dos sábados, sob as vistas de muitos colegas que não arredavam o pé da arquibancada, como “guarda metas”, esforçava-me para fechar o gol do time principal do meu Colégio Marista, sentindo que cada defesa era uma conquista.

Recordo, como se hoje fosse, que passei a sentir-me único e realizado quando, no dia do meu aniversário, finalmente pude assistir a sessão de filme impróprio para menores de quatorze anos, no antigo Cine São Luiz, então o melhor de Maceió.

Com o decorrer dos anos, fui aprendendo que a maior vitória que alguém pode alcançar não se mede por medalhas, títulos, conquistas materiais ou elogios recebidos, pois se revela, silencioso e profundo, no olhar de quem nos ama, no abraço apertado, na alegria espontânea de uma conversa entre risos e lembranças.

Hoje, com os cabelos prateados pelo tempo, esse escultor invisível de memórias e marcas, entendo que a glória mudou de forma, pois já não grita como antes, agora sussurra.

Assim, êxito para mim é perceber que sou amado pelos meus netos, filhos e por minha esposa. É ver nos olhos deles o carinho, respeito, orgulho silencioso que se expressa em beijos espontâneos, conversas demoradas, abraços que me dizem: “Você é importante para nós”. E poder retribuir.

Talvez meu tempo de vida seja inferior ao que ostentava quando comecei a sonhar com triunfos, mas se os anos que me esperam forem preenchidos com esse sentimento sincero, gestos simples e profundos, então terei vencido todas as partidas enfrentadas, porque o verdadeiro sucesso não mora nas telas de cinema, pistas improvisadas ou vitórias em cargos ocupados, ele vive nas relações que cultivamos e amor que deixamos como herança.