As nossas atitudes frente � palavra de Deus
O esvaziamento que o Deserto provoca em nós (Kénosis), conduz-nos a uma nova e surpreendente visão da realidade e da história. Começamos a enxergar o mundo com os olhos de Deus. O grande Profeta Elias, depois de sua experiência com o Deus vivo, consegue
Por | Edição do dia 16/11/2008 - Matéria atualizada em 16/11/2008 às 00h00
O esvaziamento que o Deserto provoca em nós (Kénosis), conduz-nos a uma nova e surpreendente visão da realidade e da história. Começamos a enxergar o mundo com os olhos de Deus. O grande Profeta Elias, depois de sua experiência com o Deus vivo, consegue enxergar que, não é ele que defende a Deus, mas ao contrário, que ele não é o único que se manteve fiel, há muitos outros e outras! Nossa relação com Deus, com os nossos semelhantes e com as coisas criadas adquire uma nova dinâmica: experimentamos o amor misericordioso de Deus para conosco e nos tornamos mais humanos e amorosos em nossas relações com todo ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. O deserto exerce o poder de dar consistência aos ideais e atitudes que sustentam a nossa vida, proporcionando-nos a capacidade de respondermos aos apelos e desafios que a realidade com a qual interagimos nos impõe. O poder purificador do retiro nos leva a perceber de forma consciente a lógica que sustenta a trama do tecido da realidade na qual vivemos. Uma atitude de escuta e um olhar aguçado revelam a beleza e a fragilidade das coisas, questiona-nos a partir do mais profundo de nossas convicções e nos incita a assumir atitudes novas, diante das quais não podemos fugir, uma vez que tocamos na esfera de nossa autenticidade e fidelidade. Nós devemos constantemente ir ao deserto, à luz dos ensinamentos da palavra de Deus, renovar nossas forças e recomeçar de novo. Sempre com o objetivo de olhar a realidade do mundo no qual vivemos e com o qual interagimos com os olhos da fé e encontrar forças para transfigurar nossa visão e poder enfrentar os desafios que se erguem diante de nós e que se constituem o chão concreto para o exercício de nossa missão. Missão esta que será sempre um ministério a serviço da vida e da esperança. Não podemos estar aqui alienados diante das forças que desenham a lógica da história em nosso tempo. Adentramo-nos no terceiro milênio da era cristã mergulhados em situações que, a cada dia, nos deixam perplexos. Deparamo-nos com um mundo dividido e marcado por feridas cada vez mais profundas: pobreza, fome, ódio, violência, terrorismo, corrupção endêmica e cinismo, relativismo e permissivismo em vários setores da vida, etc. Nós não podemos ficar abatidos diante disto tudo. Não vos conformeis com este mundo... (Rm. 12,2). São realidades que parecem roubar ou ofuscar aqueles sentimentos mais profundos e dignos de nossa condição humana e que levam o ser humano à experiência do vazio e da superficialidade. (*) É arcebispo metropolitano de Maceió.