M�dicos pacientes
Não vou, aqui, procurar exprimir a desobediência peculiar dos profissionais da medicina, como pacientes. Na verdade, trarei histórias narradas por alguns deles, de uma das quais fui partícipe. Esta que testemunhei, deu-se durante uma noite junina em casa
Por | Edição do dia 27/11/2008 - Matéria atualizada em 27/11/2008 às 00h00
Não vou, aqui, procurar exprimir a desobediência peculiar dos profissionais da medicina, como pacientes. Na verdade, trarei histórias narradas por alguns deles, de uma das quais fui partícipe. Esta que testemunhei, deu-se durante uma noite junina em casa de amigos, onde o anfitrião, médico, após passar o dia nos preparos festivos, sempre acompanhado de boas doses de uisque, já noite avançada, foi acometido de uma hipoglicemia. Desmaiado, foi socorrido e levado para um serviço de pronto-atendimento. Mesmo no percurso, todos os esforços feitos por colegas das alvas vestes, de nada surtiram efeito. Chegado à porta do estabelecimento de urgência, foi solicitada uma maca com a recomendação de que se tratava de um conhecido médico. Logo veio um colega do desfalecido, que ao vê-lo naquele estado, perguntou-nos: o que foi isso? Tomando conhecimento do que se tratava, voltou-se para o colega dizendo: filho de uma mãe, eu aqui trabalhando à noite e madrugada e vem você a essa hora, cheio de cachaça, me fazer inveja. Noutro episódio, no interior de uma UTI, outros dois são submetidos a tratamento. Um já estava quando o outro adentrou, sobre maca, sem o ver. Deitados em camas separadas apenas por um biombo, lá pras tantas, chega o médico intensivista, grande gozador, e ao vê-los, pede que seja tirado o biombo e colocada uma mesa entre os dois. Por não ser permitida tal regalia, necessitando de uma justificativa plausível, foi o doutor questionado pela direção hospitalar sobre sua propositura. Pelo que conheço dos dois, são boêmios inveterados e não conseguirão sobreviver muito tempo sem que lhes sirvam uma cerveja bem gelada com um bom tira-gosto. Agora, vejam como um mesmo médico pode se transformar em paciente de uma hora para outra. Neste mesmo hospital, na UTI coronariana, outro companheiro de profissão foi diagnosticado como pré-enfartado. Misto de médico e empresário, conseguiu, por sua posição profissional, levar consigo o telefone celular para dentro da unidade. E, notícia vai, notícia vem, fica todo corpo médico sabendo que lhes eram levados problemas a todo instante. Um colega, cuidadoso, dispôs-se a conversar sobre o entrevero, ao mesmo tempo em que lhe passou um bom pito, alertando-o sobre esta sobrecarga emocional para quem estava em seu estado. E mais, disse-lhe que, do jeito que ia, não conseguiria ir muito longe. Não é que, este mesmo conselheiro, ao sair da UTI e chegar aos corredores do hospital, foi acometido de um enfarto que quase o leva à morte? (*) É bacharel em Economia.