Perguntas
O boné e a bandeira

Estava recentemente assistindo a uma palestra sobre os estragos do colonialismo na África e ao final abriram-se para as perguntas; indaguei ao palestrante qual tinha sido o país que mais explorou (no pior sentido) o país que estava colonizando: se foi a Alemanha, que explorou Togo, Camarões, Ruanda, Burundi e Namíbia, onde fez experimentações in anima nobili das atrocidades que posteriormente empregaria nos campos de concentração na Segunda Guerra Mundial?
Ou seria algum outro pais tendo, como exemplo de gestor o rei Leopoldo da Bélgica, que teve no Congo um estuário para as suas perversidades? A resposta veio através do professor Douglas Apratto: o pais que praticou mais barbaridades no período da colonização africana foi a Bélgica, no Congo, tanto que uma última estátua que existia do monarca Leopoldo foi destruída em um movimento recente na Bélgica.
A exploração das colônias com a imposição de monopólios e impostos abusivos marcou as relações entre países europeus e suas possessões pelo mundo. São famosos os casos do quinto do ouro e das derramas, no Brasil, e da Lei do Chá, nos Estados Unidos – por iniciativa de Portugal e do Reino Unido. Os dois casos provocaram revoltas contra as metrópoles. No Brasil, a Inconfidência Mineira; nos EUA, a Festa do Chá, e poucos anos depois a Independência.
As atuais colonizações - assim como a derrubada das democracias que, de acordo com Steven Levitsky, não precisam mais de tanques nas ruas, mas usam sim as cooptações do Judiciário, do Legislativo e do sistema eleitoral, além do suporte velado das Forças Armadas e da Polícia - não ocupam mais fisicamente o território a ser explorado, elas usam outros métodos, como o controle dos mercados e das riquezas, principalmente através de tarifaços, manobras alfandegárias e submissão cultural em suas várias formas.
Donald Trump, séculos depois, está empenhado em restaurar uma perspectiva imperial pela coação alfandegária: o México não está ajudando o suficiente com o tráfico de drogas para uso de americanos? Bota tarifas nele.
O Judiciário brasileiro está julgando um amigo meu? Tome 50% de tarifa. E assim o mundo está vivendo sobre permanente ameaça. O planeta está tão atarantado com esse método de dominação, por meio de chantagens, sobressaltos, ofensivas e recuos, para novas ofensivas, tudo sobre bases arbitrárias, que não tem permitido reações mais eficazes e coesas, é um salve-se quem puder, cada um por si. É Lei do Mais Forte em seu estado bruto.
O Brasil tem mais de 10 mil empresas que exportam para os EUA: é o agronegócio, são os aviões da Embraer, o setor de autopeças, entre muitos outros, mas isso tudo é só 1% das importações americanas. Os EUA de Trump querem penalizar nosso Pix e até o comércio da rua 25 de março. O fato é que o novo imperador não precisa de investigação ou base objetiva para impor seus tarifaços. Que alguém no Brasil em vias de ser prejudicado como nunca o foi use o boné vermelho do M.A.G.A. e estenda uma bandeira dos EUA numa sala do Congresso Nacional é uma submissão digna do pior complexo de vira-latas.