Elegia por um velho rabugento
José Saramago, escritor português, Prêmio Nobel de Literatura, esteve recentemente no Brasil. Ele é comunista, ateu, anti-clerical e inimigo declarado da Igreja. É idoso, está doente, mas é pródigo em afirmações tolas... Sobre Deus e as coisas de Deus, a
Por | Edição do dia 12/12/2008 - Matéria atualizada em 12/12/2008 às 00h00
José Saramago, escritor português, Prêmio Nobel de Literatura, esteve recentemente no Brasil. Ele é comunista, ateu, anti-clerical e inimigo declarado da Igreja. É idoso, está doente, mas é pródigo em afirmações tolas... Sobre Deus e as coisas de Deus, afirmou: Por que eu teria de mudar [a concepção de Deus após a doença]? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Deus não existe. Salvo na cabeça das pessoas, onde está o diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida. Quando a Igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à Igreja não importam as almas, mas dos corpos. O sonho da Igreja sempre foi nos transformar em eunucos. A Bíblia foi escrita ao longo de 2.000 anos e não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente. Só tem maus conselhos, assassinatos, incestos... Aqui está um esquerdista de pedigree, um comunista hormonal, que revela toda sua ojeriza à idéia de Deus e sua repugnância pela Igreja, com argumentos absolutamente injustos e superficiais... O que afirma sobre a Bíblia faz duvidar da sua lucidez e boa-fé... Qualquer um que seja tem o direito de ser ateu e de não gostar da Igreja; mas, seria bom argumentos um pouco mais sérios e inteligentes. Não deixa de ser sintomática a visão que o velho e rabugento ateu conserva sobre a humanidade: A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras. Pobre coitado: não crê em Deus, não consegue ver o que de belo existe no homem. Nega Deus e, por isso mesmo, não consegue afirmar o homem: Como será possível acreditar num Deus criador do Universo, se o mesmo Deus criou a espécie humana? Por outras palavras, a existência do homem, precisamente, é o que prova a inexistência de Deus. Quão dura e sem sentido lhe deve ser a existência! Como a de outro rabugento, Sartre, que disse: Deus não existe; o inferno são os outros!. (*) É sacerdote e professor de Teologia.