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Nº 5905
Opinião

Das cuecas �s togas

As cuecas são utilizadas pelo homem desde a época das cavernas, quando uma manta grosseira em forma de triângulo protegia as suas partes pudentas. Na Idade Média, com o desenvolvimento das rígidas armaduras de metal, elas passaram a ser de linho, o que ga

Por | Edição do dia 13/12/2008 - Matéria atualizada em 13/12/2008 às 00h00

As cuecas são utilizadas pelo homem desde a época das cavernas, quando uma manta grosseira em forma de triângulo protegia as suas partes pudentas. Na Idade Média, com o desenvolvimento das rígidas armaduras de metal, elas passaram a ser de linho, o que garantia um mínimo de proteção aos órgãos sexuais perante aquela clausura rígida e sufocante. Com o tempo elas sofreram várias modificações: tornaram-se longas, indo até os joelhos, onde eram amarradas com fitas. Depois encurtaram e foram costuradas. Durante certo tempo elas foram tão brilhantes e coloridas quanto as calcinhas femininas. Vermelhas, azuis. Outrora algumas se assemelhavam à corpetes,moldando o corpo dos narcisistas, tal qual as mulheres exibicionistas. Na década de 80, os “sambas-canção” deram alívio e liberdade ao seu conteúdo. Em Istambul ainda se oferecem uns cuecões de algodão cujo conforto proporcionado é responsabilizado pela decantada virilidade dos turcos. O uso da cueca através dos tempos, embora destinada a agasalhar os instintos mais primevos do homem, tem sido mais pudico do que o uso da vetusta toga, que historicamente, pelo menos na aparência, sempre foi negra, cerimoniosa e respeitável. O seu uso entre nós, todavia, tem sido mais vilipendiado e corrompido que o da cueca, como se demonstrou recentemente no Superior Tribunal de Justiça, com o afastamento do ministro Medina, e no Estado do Espírito Santo, onde o presidente do Tribunal de Justiça chefiava uma gangue – que incluía entre outros um filho juiz – que vendia sentenças a granel. Desde sempre se comenta da existência de juízes que vendem sentenças. Os magistrados, guardiões da sociedade, deveriam ser tão impolutos quanto a Virgem. Ganham muito bem, tem irredutibilidade, vitaliciedade, férias e recessos monumentais, além de muitos outros privilégios. Os (maus) exemplos superiores insistindo em negar a existência do mensalão fizeram com que os seus membros recrudescessem como os únicos que na longa e honorável história da cueca corrompessem o seu indispensável uso, tornando-a depósito e meio de transporte de dinheiro ilícito. Antes do mensalão, durante toda a sua longa existência no Brasil, o uso mais reprovável que se fez desta inestimável indumentária foi o daquela tresloucada mulher, que tanto indignou o poeta que resultou no protesto ameaçador contido na marchinha:“Eu mato, eu mato, quem roubou minha cueca para fazer pano de prato!” (*) É médico e professor da Uncisal.

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