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quarta-feira, 13/08/2025 | Ano | Nº 6030
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Quase na esquina de onde moro

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Diariamente, logo cedo, antes mesmo do Sol se erguer por completo no horizonte, caminho pelas ruas ainda sonolentas rumo ao exercício matinal. O silêncio da manhã é cortado apenas pelo som dos meus passos e, ocasionalmente, pelo canto tímido de algum passarinho que despertou antes da hora.

Quase na esquina de minha casa, uma cena se repete como ritual discreto e comovente: vejo chegar um homem simples, montado em sua bicicleta. Na garupa, e no guidom, equilibra duas grandes caixas térmicas, dessas que carregam o sustento com cheiro de afeto e suor. Ele vem pedalando com calma, como se conhecesse todos os segundos da cidade ainda adormecida.

Dentro dos reservatórios em isopor, repousam guloseimas cuidadosamente preparadas, bolos, tapiocas, cuscuz, canjica e também café coado com carinho em alguma cozinha humilde. São delícias que passam a ser oferecidas, sem alarde, somente com sorriso característico de quem espera que tudo haverá de dar certo.

Minutos depois, começam a chegar os primeiros fregueses, gente que trabalha na redondeza, rostos que cruzam o dia a dia da cidade, mas raramente trocam palavras, e então ao redor do homem da bicicleta e de sua mercadoria modesta, forma-se algo raro: uma roda. Uma roda de conversa, de riso, de partilha. Ali, sem mesa posta, sem cadeira, sem luxo, o ser humano revela seu instinto mais antigo, o de viver em comunidade.

O que me impressiona é essa força silenciosa da simplicidade, onde ninguém pergunta nome ou exige convite. São transeuntes, desconhecidos, mas por alguns minutos tornam-se cúmplices de um momento que o asfalto e o concreto não conseguem conter.

Falam de tudo: do preço da gasolina ao último jogo, das dificuldades do dia às esperanças para o amanhã. E, entre um gole de café e uma colher de mungunzá, surgem até soluções para os problemas do mundo, ditas com a autoridade de quem observa a vida de perto, com os pés no chão e o coração desperto.

É nesse cenário despretensioso que percebo: o homem, quando quer, transforma qualquer esquina em praça, qualquer parada em encontro. E assim, na simplicidade de uma bicicleta estacionada antes do amanhecer, a cidade se humaniza.

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