Cidade sorriso
Dois bandos de primatas separados apenas pela presa já abatida se estranham. Via de regra, em tais circunstâncias, os animais precisam se atracar uns contra os outros para que o grupo vencedor possua a presa. É a lei. Um primata empunha um osso da pre
Por | Edição do dia 16/12/2008 - Matéria atualizada em 16/12/2008 às 00h00
Dois bandos de primatas separados apenas pela presa já abatida se estranham. Via de regra, em tais circunstâncias, os animais precisam se atracar uns contra os outros para que o grupo vencedor possua a presa. É a lei. Um primata empunha um osso da presa, outro se arma duma pedra. Num repente, um deles mostra seus dentes, e o rival, com igual simpatia, exibe os dele. Daqui a pouco os bandos arregalam os lábios de jeito amistoso a compartilhar a caça. Surgiu assim o sorriso. O ato de sorrir é o sinal primeiro do consenso. Não fosse ele, a espécie homo teria se esboroado em combates. Acaso se restassem sobreviventes, resumiríamos à seriedade, a choro e ódio. Seríamos semi-humanos. Guarde bem: sorrir nos humaniza. Esse era o nexo com que se entendia o título de Maceió, Cidade Sorriso: cidade tranqüila, de empatia, de generosidade como centro do convívio de seus habitantes. Agora, não é mais. Porém é possível resgatar algo daquela cidade sorridente. Um município é reflexo de seus governantes... E de seus moradores. Mas como sorrir em tempos tristes? Um bom começo é enxergar com seriedade esse ato, pois rir é, essencialmente, pacificar. Anote isto: ao rirmos estamos dando margem à paz. Assim, podemos apaziguar os conflitos, as tensões e dores nossas ou alheias, sorrindo ou internalizando o sorrir. Foi por isso que Martin Luther King discursou: Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios; e Clarice Lispector escreveu: Ainda que haja noite no coração, vale a pena sorrir para que haja estrelas na escuridão. Como sorrir se não for de meu feitio? Bem, foi dito que sorrir nos humaniza e apazigua. Logo, por silogismo, entende-se que qualquer postura por nós assumida em benefício do próximo e que promova paz é um sorriso. Então se para alguns não foi dado exibir os dentes, em compensação a todos foi dada a capacidade de fazer o bem. Anote isto também: não contribuir com o mal é dar o seu melhor sorriso para o mundo. A todos os que sofrem e estão sóis, dai sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração disse Madre Teresa de Calcutá. Em relação a sorrir, não temos muita dificuldade. O brasileiro é, por natureza e por clima, risonho. É por isso que o País estando ou não em crise estaremos rindo à toa. O desafio de caráter genuinamente maceioense é o resgate da nossa simpatia e de nosso humanismo. (*) É estudante de Letras da Ufal.