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Literatura

O Sopro, o Piscar e o DNA da Escrita

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Em minha infância, uma das falas que mais me marcou foi dita por Monteiro Lobato, talvez pela travessa e filosófica Emília: “A vida é um sopro”. Naquele tempo, não compreendia plenamente a densidade da frase, mas ela ficou em mim, como semente que só germina quando a alma amadurece.

Recentemente, ao ler “Um Cavalheiro em Moscou”, de Amor Towles, deparei-me com outra cena que me tocou profundamente. O conde russo Alexander Rostov, ao ver sua afilhada, menina que criara com afeto, ser convidada a protagonizar concerto ao piano na grande Ópera de Paris, expressa, com espanto e ternura: “Em um piscar de olhos, ela cresceu.”

Foi quando compreendi que, na literatura como na vida, tudo se repete. As emoções, os ciclos, os voos e os adeuses. Mas o que confere originalidade ao que é dito e escrito é o DNA do autor. As palavras podem ser semelhantes, mas carregam o tom único de quem as redige, a temperatura exata da alma que as molda.

Meditando sobre isso, lembrei de minhas filhas. Pisquei… E aquelas meninas com quem eu brincava, corria pela casa entre risos e bonecas, simplesmente desapareceram. Cresceram. Tornaram-se mulheres, assumiram seus caminhos, responsabilidades, próprios sonhos. Mas em mim ainda vivem as crianças que um dia embalei nos braços, as pequenas que me chamavam com o brilho nas pupilas e o coração aberto.

Fechei os olhos novamente… E os netos que eram tão pequenos, que me pediam histórias inventadas na hora, que riam das minhas vozes engraçadas e se aninhavam no meu colo como se ali fosse o mundo inteiro… também cresceram. Agora, já caminham com passos próprios, fazem perguntas mais difíceis e alguns deles já guardam os segredos da juventude nos olhos.

Assim é a vida, um piscar de olhos, um sopro, um instante, mas o que realmente interessa permanece. Vale sentir o espírito de família pulsando em cada abraço, palavra dita ou calada, memória construída com amor. Importa amar, com gestos, presença, doação, e se esforçar, dia após dia, para ser merecedor desse sentimento de volta. O tempo passa, mas o que foi vivido com o coração permanece eterno.

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