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terça-feira, 26/08/2025 | Ano | Nº 6040
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Enfrentamento

A tragédia que não cabe nas manchetes; fome e sede em tempos de guerra

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As imagens da matéria da BBC — crianças esqueléticas, olhares vazios, corpos que não suportam nem a fome nem os escombros são difíceis de ver. E devem ser. Mas são necessárias. Em Gaza, a morte não está apenas nos bombardeios: ela também chega em doses lentas, pela escassez de água, comida, remédios, doenças, pela brutalidade invisível que os conflitos impõem.

As fotos chocantes que circulam nos veículos de imprensa não são instrumentos visuais: são alertas urgentes. Revelam a morte causada por fome e sede, resultado de um bloqueio que reduz a população a consumir o equivalente a 245 calorias por dia, menos de 12% do necessário diariamente, segundo Oxfam e OMS.

As marcas psicológicas de guerra e deslocamentos vêm acompanhadas de destruição ambiental: cerca de 68% a 75% dos terrenos agrícolas em Gaza foram danificados ou destruídos, inviabilizando alimentos, renda e resiliência local, segundo relatórios da FAO.

A ONU alerta que, em 2024, mais de 295 milhões de pessoas em 53 países enfrentaram fome aguda. Um relatório da força-tarefa da ONU-G20 destaca que a fome extrema se intensifica em 13 pontos críticos, incluindo Gaza, Sudão do Sul, Mali e Haiti, onde a guerra e a violência política interrompem o acesso a serviços essenciais.

Não se trata apenas de parar os combates, a guerra já está matando, e suas vítimas são as mais vulneráveis. Se já não bastassem os bombardeios, a inanição, as doenças instauradas pela fome, as feridas sem tratamento estão levando gente a morrer dia após dia.

A OMS alerta que essa crise em Gaza representa danos que vão muito além do físico imediato: trata-se de trauma epigenético, cognitivo e metabólico que pode condenar gerações inteiras ao atraso, instabilidade e à perpetuação da violência estrutural e da pobreza.

A guerra está viva. E não se manifesta só pelos tanques ou explosões, mas pela fome que leva ao colapso físico, mental e social de todo um povo. As declarações de cessar fogo são insuficientes enquanto a ajuda não chega, enquanto alimentos, água e dignidade forem usados como armas silenciosas.

É urgente: a comunidade internacional pode transformar choque em ação. É necessário garantir abastecimento seguro, reconstruir os sistemas dessas comunidades, apoiar sobreviventes e reconstruir vidas. Porque a guerra mata hoje, e só enfrentando a fome, a escassez e os traumas gerados poderemos impedir que seu rastro de morte se estenda por gerações.

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