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Futuro

Guerra Civil e fake news

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A Guerra Civil norte-americana coincidiu com as eleições de 1864 e, numa demonstração de sua importância, elas não foram adiadas e, muito menos, suspensas. Evidentemente, os estados confederados (os rebeldes do Sul do país) não participaram do pleito. Na opinião da maioria dos políticos, o foco da eleição deveria ser o futuro da União – continuar a guerra ou mediar a paz.

O candidato democrata, George B. McClellan, via a escravatura como uma instituição protegida por direitos constitucionais, pelo que, quando defendeu um restabelecimento total da União, garantiu que se ganhasse as eleições a escravatura seria normalizada. No outro canto estava o candidato republicano e então presidente, Abraham Lincoln. Desde o seu primeiro mandato como presidente, Lincoln estivera envolvido na questão da abolição. Claro que os escravos só seriam realmente libertados se a União vencesse a guerra.

A abolição era motivo de dissensão no seio do próprio Partido Republicano, uma vez que muitos dos mais abastados haviam de perder milhares de milhões sob a forma de capital humano se a emancipação fosse para a frente, isso para não falar no receio de que a abolição levasse a ainda mais guerras. Ad latere, surgiu uma imprensa que se dedicava a criar histórias que usavam uma pseudociência, muitas vezes imaginária, para provar que os negros eram inferiores ou para promover notícias (reais e falsas) que pudessem ser distorcidas de modo a pintar a população negra dos EUA formada por “bárbaros” e “monstros”, tentando promover o alarmismo na população branca.

Certa imprensa antagônica da emancipação dos escravos criou e disseminou então uma condição pseudocientífica de que o homem negro era geneticamente mais forte e se se unisse à uma mulher branca, fazendo a miscigenação, se faria a vontade dos abolicionistas. A falsa miscigenação ”pregava que os homens negros norte-americanos eram um ‘’ideal de verdadeira masculinidade” e que o futuro da humanidade dependia do casamento inter-racial, isso porque “as raças mestiças ou misturadas seriam muito superiores mental, física ou moralmente às raças puras ou não misturadas”.

Essas ideias eram de natureza deliberadamente revolucionárias. Mesmo no seio de abolicionistas, a noção do casamento inter-racial era um tabu, quase impossível de ser superado na época. O panfleto mentiroso da miscigenação circulou inicialmente no Sul escravocrata, mas logo (como as mentiras de hoje na internet circulam rapidamente) estava circulando e sendo editado em todo o país, inclusive nas portas dos líderes abolicionistas. O panfleto “viralizou”, chegando seu teor a ser debatido no Congresso.

Houve tumultos e mortes em decorrência dessa fake news, como as escaramuças entre irlandeses e negros em Nova Iorque, com um total de 120 vítimas. Contudo, Lincoln foi eleito em 1864 e governou até seu assassinato, em 1865. As fake news são antigas e causam sérias consequências.

Nas décadas seguintes, vários estados promulgaram leis da miscigenação, proibindo legalmente o casamento inter-racial. Em 1883, o Supremo Tribunal dos EUA decidiu que tais leis não violavam nenhuma parte da Constituição e só em 1964 a lei norte-americana começou a lançar as bases para inverter esta decisão e impedir que os estados proibissem o casamento entre brancos e negros.

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