Editorial
Estratégia defensiva

A decisão do governo Lula de autorizar consultas para a aplicação da Lei da Reciprocidade Econômica contra os Estados Unidos marca um ponto crítico nas relações bilaterais. A medida é uma resposta direta ao “tarifaço” do governo Trump, que impôs sobretaxas de 50% sobre exportações brasileiras, mas vai além. Ela reflete uma estratégia defensiva diante de um cenário de crescente tensão e da ameaça de sanções ainda mais severas por parte dos EUA.
O contexto, no entanto, é complexo e delicado. Medidas de reciprocidade abruptas podem agravar o conflito, aumentar a insegurança jurídica e onerar cadeias produtivas nacionais que dependem criticamente de insumos e tecnologia americanos.
O governo demonstra estar ciente desses riscos. A sinalização de que eventuais contramedidas seriam “pontuais e simbólicas”, focando em setores como artigos de luxo ou plataformas de streaming, é um indicativo de que se busca mais do que uma simples retaliação. Trata-se de construir legitimidade internacional e instrumentos de barganha para um conflito que parece de longa duração.
Paralelamente, a abertura de novas frentes comerciais é a estratégia mais acertada. Diversificar parceiros e reduzir a dependência de um único mercado é a saída mais inteligente e sustentável no longo prazo.