Um brinde ao recome�o
Hoje é o grande dia em que manifestamos os pedidos e desejos para o ano vindouro: dinheiro, saúde, felicidade. Estamos quase todos preparados para brindar com champanhe, navegar em ondas de alegria e assistir ao espetáculo anual da queima de fogos. Eu,
Por | Edição do dia 31/12/2008 - Matéria atualizada em 31/12/2008 às 00h00
Hoje é o grande dia em que manifestamos os pedidos e desejos para o ano vindouro: dinheiro, saúde, felicidade. Estamos quase todos preparados para brindar com champanhe, navegar em ondas de alegria e assistir ao espetáculo anual da queima de fogos. Eu, porém, parei para pensar nos meus anseios para 2009 e minha constatação foi de que gostaria que a humanidade voltasse a ter uma vida comum. Sabemos que a existência humana caminha num redemoinho de mudanças, mas não custa sonhar. Lembrei-me de uma época onde ladrões tinham aparência de ladrões e uma de nossas poucas preocupações com a segurança era ir ao cinema, por exemplo, e ser flagrado pelo lanterninha ao roubar um beijo da namorada. Mães, pais e avós eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos e mais velhos, mais afeto. Os adultos eram sempre confiáveis, afinal, eram pais de outros adolescentes ou crianças como nós. Medo? Só do escuro, de sapos e filmes de terror. Matar pais, mães, filhos, abusar de crianças virou fato comum nos noticiários e são esquecidos ao primeiro intervalo comercial. Somos apresentados, diariamente, pela televisão, a assassinos com cara de anjos ou pedófilos que agem em suas próprias residências. Filhos exigem recompensa de seus pais por passarem de ano e recebem seus primeiros celulares quando acabaram de sair das fraldas. Carros valem mais do que abraços e afetos, marcas famosas valem mais que um diploma, baseados e drogas são vendidos na esquina próxima no lugar de sorvete. Estamos na era dos jovens ausentes, de pais nem sempre presentes e o presente transformado numa droga. Peço a 2009 que traga de volta a paz, a tolerância, a dignidade, respeito, aquela velha e maravilhosa capacidade de dialogar, enfim, o lugar onde o bem e mal são contrários e onde ninguém duvida disso. Em 2009, peço menos grades nas janelas e no lugar delas que se plantem flores, para que elas possam estar abertas nas noites de verão. Peço mais respeito e menos agressão à mãe natureza e que com ela possamos viver em espírito de harmonia e fraternidade. Peço para que em 2009 possamos estar mais preocupados em ser do que em ter, em somar mais e dividir menos. E com isso, que possamos brindar com toda energia e emoção a um novo recomeço, com mais paz e menos guerras. (*) É médico e ex-secretário de Educação e de Saúde.