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Nº 5905
Opinião

Solit�rios na multid�o

Está no Eclesiastes, I, 9: “O que foi, é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer: nada há, pois, novo debaixo do sol”. Se os economistas observassem a Bíblia não estaríamos iniciando o ano sob a égide das maiores incertezas e inseguranças

Por | Edição do dia 03/01/2009 - Matéria atualizada em 03/01/2009 às 00h00

Está no Eclesiastes, I, 9: “O que foi, é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer: nada há, pois, novo debaixo do sol”. Se os economistas observassem a Bíblia não estaríamos iniciando o ano sob a égide das maiores incertezas e inseguranças dos últimos 100. Estamos ainda sob os efeitos das festividades de fim do ano, quando as emoções, a sofreguidão e o frenesi parecem que entorpecem as pessoas, como se todo ano que finda fosse o último. Ocorrem na cidade mil histórias, esta é apenas um delas. Dois amigos fraternos e mui bem casados passaram um Natal dos mais inusitados e dignos de esquecer. Largados pelas mulheres que os deixaram em busca de parentes distantes, onde passaram todos os festejos da época, resolveram juntar as trouxas do abandono e as migalhas das tristezas; no Natal saíram para cear e se consolarem mutuamente. Passaram no restaurante da preferência de ambos, onde planejavam jantar uma massa com um bom vinho. Estava fechado. Ora, pensaram, vamos aquele outro que também os agradava. Também estava fechado. Mas tinha aquele outro, que não era da preferência de nenhum, mas enfim! Estava com as portas cerradas. Depois de inúmeras tentativas, já cansados resolveram ir a um japonês, comer peixe cru, que aquelas alturas, pelo menos não os deixaria com risco de indigestão. Fechado. Terminaram a noite em uma lanchonete periférica um de frente para o outro, comendo sanduba de mortadela com coca-cola zero. No réveillon, ainda solitários, não combinaram nada, para não dar sopa para o azar; resolveram ir ver o show do Alceu Valença cada um por si. Mas no meio daquela multidão que abarrotava a orla, o improvável aconteceu: se encontraram, se abraçaram e desafinados, cantaram juntos com Alceu Bicho maluco beleza. Um tinha um prosseco italiano, outro uma champagne francesa, já amornados pelo tempo fora da geladeira. Depois veio a contagem dos minutos, 2008 se acabava e 2009 chegava. Fogos pipocaram lá no meio do mar: alegria, abraços, risos. Por entre a multidão estouravam as cidras, os espumantes nacionais, os mais entusiasmados aspergiam o conteúdo de suas garrafas na multidão. Abriram as suas garrafas e se abraçaram. Entrelaçados, beberam na boca, um na garrafa do outro. Até secar. E meio embriagados, prometeram que no ano que começava procurariam se comportar e não dariam nenhuma razão para as patroas se mandarem deixando-os solitários na multidão. Afinal, na prática o futuro é imprevisível, mas o passado se conhece. (*) É médico e professor da Uncisal.

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