Editorial
Fôlego

O avanço de 0,8% da produção industrial em agosto, divulgado nessa sexta-feira (3) pelo IBGE, trouxe um sopro de otimismo. O crescimento foi disseminado em boa parte dos ramos, com destaque para o setor farmacêutico, que acumula alta expressiva de 28,6% em quatro meses.
Produtos alimentícios e derivados de petróleo também ajudaram a sustentar o resultado, apoiados pelo consumo das famílias e por um mercado de trabalho ainda aquecido. Esse desempenho, somado à revisão da queda de julho, reforça a percepção de que o PIB do terceiro trimestre pode escapar da estagnação prevista por alguns analistas.
Apesar da surpresa positiva, os números expõem velhas fragilidades. O setor de bens de capital, termômetro dos investimentos, voltou a cair: recuo de 1,4% frente a julho e de 5% em relação a agosto do ano passado. Alguns segmentos também foram afetados pelas sobretaxas impostas pelo governo Trump, caso da madeira e dos móveis, mas sem impacto generalizado. A preocupação maior está no baixo dinamismo estrutural da indústria, que impede uma recuperação consistente.
Dessa forma, os dados de agosto mostram fôlego no curto prazo, mas não alteram o diagnóstico: sem novos investimentos e uma política industrial clara, o setor continuará oscilando entre pequenos avanços e recorrentes retrocessos.