Mais um Natal passou
Mais um Natal se foi: nossas alegrias e emoções se embrulharam nos papéis coloridos de presentes ou nos símbolos natalinos. De certa maneira, tornou-se o Natal do Menino-Deus o aniversário de todos nós que Nele cremos. Presenteamo-nos. Nunca tantos aniv
Por | Edição do dia 20/01/2009 - Matéria atualizada em 20/01/2009 às 00h00
Mais um Natal se foi: nossas alegrias e emoções se embrulharam nos papéis coloridos de presentes ou nos símbolos natalinos. De certa maneira, tornou-se o Natal do Menino-Deus o aniversário de todos nós que Nele cremos. Presenteamo-nos. Nunca tantos aniversariaram, em um dia só. Parece-me que, em um mundo competitivo, eivado de conflitos, em diferentes partes dos continentes, onde as vítimas são, em grande maioria, civis inocentes ou povos irmãos; em um mundo envolvido em rixas, rivalidades, lutas, indiferença, estão as criaturas humanas procurando reconciliar-se, diminuindo as arestas que as impedem de se abraçarem, através de presentes natalinos. Ninguém mais do que uma criança nos pode conduzir à paz; nada mais do que os olhos puros e cândidos de um inocente e as mãozinhas trêmulas de um bebê, querendo agarrar o mundo que, ainda, não conhece, convidam-nos ao abraço da reconciliação. O grande desafio da reconciliação apresenta-se, hoje, no contexto de um mundo que experimenta, por um lado, o processo de globalização e, por outro, aquela paradoxal fragmentação generalizada que o conduz à instabilidade e a insegurança sociais. Mais um Natal passou. Por meio de dádivas mútuas, muitas muralhas de ódio e paredes de desencanto foram derrubadas: maridos aproximaram-se de seus lares verdadeiros, filhos reconciliaram-se com seus pais, amigos com seus companheiros. Com os presentes natalinos embrulhamos, de certo modo, a nossa reconciliação, a nossa paz, o nosso perdão e ofertamos ao outro, ao diferente, vencendo barreiras dentro da família, da comunidade, das repartições, dentro dos nossos clubes, de nossos movimentos... Portanto, Natal, ou melhor o Natal que passou não foi tanto uma festa de comércio, senão um grande momento de construir a paz e de estabelecer a reconciliação, através de dádivas. Não deixou o Natal de ser um instante de necessidade psicológica, de fazer catarses, de expelir tudo quanto era nocivo no recôndito do nosso ser. Basta dizer que o presente natalino foi um precioso kairós, de perdão e reconciliação. Poderíamos até parafrasear uma canção carnavalesca: Vou abraçar-te, agora; não me leve a mal: tudo é Natal. (*) É bispo emérito de Palmeira dos Índios e presidente da Academia Alagoana de Letras.