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Nº 5902
Opinião

Valhacoutos

Um cliente, advogado de profissão, coincidentemente leitor dessa coluna, sugere-me que escreva alguma coisa sobre a negação ao pedido de extradição do militante/terrorista italiano Cesare Battisti. Para ele, o País não pode ser um valhacouto para bandid

Por | Edição do dia 24/01/2009 - Matéria atualizada em 24/01/2009 às 00h00

Um cliente, advogado de profissão, coincidentemente leitor dessa coluna, sugere-me que escreva alguma coisa sobre a negação ao pedido de extradição do militante/terrorista italiano Cesare Battisti. Para ele, o País não pode ser um valhacouto para bandidos estrangeiros. Bastam os daqui. Gostei do tema, mas, confesso, gostei muito mais de “valhacouto”, expressão que o escriba nunca utilizou, nem em escritos, muito menos em conversas. Termo que faz festa em ácidos comentários de renomados formadores de opinião, de políticos e de inflamados advogados de acusação, “valhacouto” me seduziu completamente. Na realidade, já havia feito algumas anotações sobre a polêmica decisão. Cesare Battisti, para as autoridades italianas não passaria de um bandido que teria se envolvido em atividades políticas “terroristas” nos anos 70, enfrentando um governo legítimo, é bom que se diga, – de “extrema direita”, segundo apaixonado artigo de Dalmo Dallari publicado na Folha de São Paulo de 19/01/09. Condenado à prisão perpétua por tribunal italiano, sobre ele, Battisti, pesam acusações de participação em assassinatos. De pelo menos dois deles seria o autor material. Todos sabem que muitos dos que ocupam cargos de mando no Brasil estiveram (ou assim o dizem), envolvidos com a “luta armada” contra a ditadura militar. Há inclusive um certo glamour difundir que “pegou em armas” para enfrentar a repressão e coisas assim. Dito diferente: a administração pública tornou-se um valhacouto de aposentados “guerrilheiros”. Tarso Genro bateria bola nesse time. Não admira, pois, que, independentemente das versões, Battisti e outros que tais recebam, a priori, a simpatia de facções do governo brasileiro, muitas vezes na contramão da orientação diplomática, como agora. O advogado Dalmo Dallari, historicamente ligado a essa turma, no aludido artigo da Folha, enaltece a decisão de Genro classificando-o como “ato de soberania”, e repele “concessões de indigna subserviência do Estado brasileiro”. Sem querer remoer feridas, indigna subserviência esteve presente em pelo menos dois episódios da nossa história. Nos idos de 30, na entrega da terrorista alemã Olga Benário, namorada de Carlos Prestes e suposta mãe da filha do lendário comunista. Mais recentemente, atletas cubanos não receberiam o ardor humanitário concedido a Battisti. Num vergonhoso ato de submissão, rastejou-se às ordens castristas e deu-se cartão vermelho aos fugitivos. (*) É médico e professor da Ufal.

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