Geena ou a montanha de Macei�
Nesta última manhã de sábado despertei tomado de uma melancolia profunda. Estava eu muito entediado, diria aborrecido, diante do espetáculo do mundo com suas guerras e suas ignomínias. Não sei se já tiveste, amigo leitor, aqueles momentos desgostosos vind
Por | Edição do dia 25/01/2009 - Matéria atualizada em 25/01/2009 às 00h00
Nesta última manhã de sábado despertei tomado de uma melancolia profunda. Estava eu muito entediado, diria aborrecido, diante do espetáculo do mundo com suas guerras e suas ignomínias. Não sei se já tiveste, amigo leitor, aqueles momentos desgostosos vindos com a lembrança das decepções que nos carreiam ao desencanto; a achar que tudo é em vão e que não há remédios suficientes para os males do mundo. Esta minha tristeza teimosa não se dissipou nem com o sol abundante do sábado nem com o anúncio do fim do governo Bush. O leitor amigo pode achar um exagero da minha parte, porém, nesses momentos, nem a morte me serve. E já que a morte, até este momento, nunca me atraiu nem me seduziu e, em verdade, sempre fui renitente a ela, procurei encontrar a vida nas revistas e jornais antigos que se acumulavam pelos cantos da casa. E os tinha aos borbotões nos cafundós domésticos após minhas férias. Busco e rebusco alguma coisa que me interesse e dou de cara com um artigo do meu colega de diretoria da Casal, Álvaro Menezes, arengando com uma montanha em Maceió. Artigo de truz, soberbo. O meu amigo Álvaro nunca arredou pé de bons embates e escaramuças, porém, enredar-se com uma montanha de lixo me parece um despropósito. Não conhecia essa peculiaridade curiosa do amigo. Como um geógrafo sai a descobrir, a descortinar novas geometrias na cidade, como a montanha do nosso lixão, a nossa Geena, que surge e se agiganta aos olhos dos que passeiam pela orla da aprazível Jatiúca. Maceió é cantada, em verso e prosa, por suas praias e não por suas montanhas, as quais não as temos, pelo menos as naturais. Neste aspecto perdemos feio para os suíços, com seus altaneiros picos alpinos e para os irmãos ai, que inveja! argentinos e chilenos com as portentosas cadeias de montanhas andinas. Ah, amigo Álvaro, lamentavelmente não há nenhuma possibilidade de nossa Geena, nossa montanha de lixo, elevar-se, ascender aos píncaros do céu para acariciar o astro-rei ou enganchar-se aos cornos da lua, como o arrogante Aconcágua ou o imponente Licancabur, colocando-nos, definitivamente, no circuito turístico internacional dos amantes do alpinismo! Como bom engenheiro que és, tu sabes que o lixo, pela maneira como lá é disposto, fica propenso a escorregamentos e a nossa montanha, ao invés de ascender, espalhará sua base, engolindo tudo em torno, como a incúria e a maldade dos homens. (*) É engenheiro da Casal.