A origem da corrup��o
Recentemente fiquei estarrecido com uma história contada por um ex-estagiário meu. Hoje, esse rapaz que é professor em uma ou duas escolas particulares, prefere esquecer o ocorrido, que para ele também foi uma surpresa. Afinal, ensina crianças, por isso l
Por | Edição do dia 28/01/2009 - Matéria atualizada em 28/01/2009 às 00h00
Recentemente fiquei estarrecido com uma história contada por um ex-estagiário meu. Hoje, esse rapaz que é professor em uma ou duas escolas particulares, prefere esquecer o ocorrido, que para ele também foi uma surpresa. Afinal, ensina crianças, por isso lhe foi um susto enorme, quando após aplicar uma avaliação final, um aluno permaneceu em sala. Era o último a entregar a prova. E esta ao invés das respostas como qualquer outra, vinha apenas com uma cédula de cinqüenta reais presa por um clips. O menino não disse nada e só entregou a página em branco com o dinheiro e saiu da sala. O professor tomou fôlego e não teve ação sequer para chamar o garoto de volta. Entendia muito bem a mensagem e não era necessário pedir explicações. Estavam tentando suborná-lo. O menino não havia dito nada. Mas não era necessário. O dinheiro estava ali, preso a uma prova em branco, sem uma resposta sequer. O que estava fazendo ali? Perguntou a si mesmo. Era um educador e se sentia responsável por cada uma daquelas crianças que ali estavam. Mas e os pais, qual o papel dos pais em tudo isso? Não acreditava que a criança sozinha tivesse discernimento para tentar comprar a sua nota. Alguém o teria orientado. Ele precisava de uma boa nota para ser aprovado. Talvez para não ficar mais tempo na escola. Não podia nem imaginar o motivo. Voltou a pensar naquela criança reticente, talvez inconsciente do papel que representava tentando ser a última a entregar a prova sem nenhuma resposta. Depois, o seu silêncio e o olhar absorto nalgum ponto diferente dos olhos do professor. Sensação de culpa? Fuga? Vergonha? Divagou, novamente em torno da criança e seus pais. Imaginou o mundo com seus conceitos, alguns que havia aprendido, outros em que acreditava cegamente. Depois, pensou no que teriam dito ao seu aluno para fazê-lo concordar com seu papel naquela história. Era como um vírus transmitindo uma moléstia incurável. A facilidade para corromper não tinha limites e nem idade. Dali por diante aquela lição de casa nunca mais seria esquecida. Todos teriam um preço. O do seu professor era R$ 50,00. Ainda olhou mais uma vez para a prova do aluno, analisando cada quesito não respondido. Não quis, certamente, ter trabalho, estava pagando. Será? Pensou, enquanto dobrava, vagarosamente, o papel. Depois saiu da sala e foi até a diretora da escola. Abriu mais uma vez a avaliação do fim do ano letivo, deixou o dinheiro à mostra e colocou sobre a mesa. Não ousou também dizer uma palavra. Nem era preciso, o nome do aluno e o dinheiro diziam o suficiente. (*) É escritor e artista plástico.