As j�ias penedenses
Quando se honram os mortos e a memória dos ancestrais remotos se mantém viva, a virtude de um povo encontra-se em seu apogeu. O analecto de Confúcio (551-479 a.C.) parece conter algo de censura ao desleixo com que salvo alguns poucos abnegados trata
Por | Edição do dia 29/01/2009 - Matéria atualizada em 29/01/2009 às 00h00
Quando se honram os mortos e a memória dos ancestrais remotos se mantém viva, a virtude de um povo encontra-se em seu apogeu. O analecto de Confúcio (551-479 a.C.) parece conter algo de censura ao desleixo com que salvo alguns poucos abnegados tratamos a memória da nossa gente, a história do nosso povo, o alagoano. Recentemente visitei Penedo, bem ali às margens do tão decantado, discutido e agredido São Francisco, o rio da unidade nacional. A cidade respira cultura, terra de Sabino Romariz, de Ernani Mero, de Raimundo Marinho, de Silvio de Menezes, alguns dos muitos homens ilustres daquele rincão, este último exemplo da história viva da bela cidade ribeirinha. Penedo tem muitas atrações aos olhos, despertando a mente para o passado de glórias e do fausto arquitetônico dos séculos 17 e 18, as igrejas barrocas que nos inspiram reflexões, o Teatro 7 de Setembro, cujo estilo neoclássico instiga e emociona a imaginação, o eterno correr das águas, ora azuis, às vezes barrentas, do Uparapitinga, nome do Velho Chico, certamente aborígine, encontrado por Cármen Lúcia Dantas. Nessa minha última visita descobri que a cidade guarda jóias também muito preciosas e que estavam e ainda estão furtadas aos olhos de penedenses e de visitantes. E tal descoberta pessoal deu-se pelas mãos do Juiz Claudemiro Avelino de Souza. Em verdade, já havia eu tomado conhecimento do esforço do ilustre magistrado na recuperação da história jurídica daquela comarca, matéria publicada pelo jornal da Almagis. Ser apresentado ao acervo pelo denodado pesquisador foi, porém, uma experiência única. Senti o seu zelo, o desvelo com que trata os documentos antigos, o entusiasmo com que fala do passado ali revelado, decisões que remontam o século 18, histórias bizarras sobre a escravatura, os navios que ali aportavam, a chegada do imperador, e tantas relíquias que haviam sido, qual ninharias, abandonadas às traças e à ação impiedosa do tempo, que só não foram inteiramente perdidas graças à sua ação altruísta, porquanto, muito o que foi feito, ou tudo, foi às suas próprias expensas. É hora de o poder público despertar para esse acervo, de dar mãos ao dr. Claudemiro para não permitir que a nossa memória, enquanto gente, venha a ser destruída por insaciáveis fungos. Urgem medidas científicas à preservação de tão precioso material. Afinal, ali está a história, talvez a mais remota, da atividade jurisdicional do Judiciário alagoano. Precisamos, sem dúvidas, ouvir a voz do sábio oriental. (*) Advogado militante ([email protected])