O batizado do ovo
O Maracanã estava superlotado naquela tarde, com o jogo entre o Brasil e Espanha pela Copa do Mundo de 1950. Quando Chico fez 4x0 para o Brasil, a multidão de 180 mil pessoas começou a cantar unissimamente: Eu fui às touradas em Madrid, paratibumbum, bum
Por | Edição do dia 07/02/2009 - Matéria atualizada em 07/02/2009 às 00h00
O Maracanã estava superlotado naquela tarde, com o jogo entre o Brasil e Espanha pela Copa do Mundo de 1950. Quando Chico fez 4x0 para o Brasil, a multidão de 180 mil pessoas começou a cantar unissimamente: Eu fui às touradas em Madrid, paratibumbum, bumbum... E quase não volto mais aqui!. Solitariamente um sujeito começou a chorar. Um torcedor fanático que estava próximo vociferou: Vai embora espanhol desgraçado!. O chorão era o João de Barro, o Braguinha, autor daquela marchinha Touradas em Madrid, que se tornaria um grande clássico do carnaval brasileiro. Semana passada vivi indescritível emoção. No auditório do Hospital A.C. Camargo assisti a formatura de meu filho Marcel Davi como componente da 53ª turma de cancerologistas daquele hospital, o único brasileiro a ter a nota máxima do MEC, 7, dois anos seguidos, e que juntamente com a Beneficência Portuguesa, são as duas instituições paulistas que realizam uma grande cerimônia na conclusão de seus médicos residentes. Os 35 formandos do A.C. Camargo, oriundos de diversos cantos do País entraram no auditório Dr. Antônio Ermírio de Moraes ao som da orquestra de câmara Barcarelli, a qual durante a cerimônia interpretou músicas que incluíram a ária Nessum Dorma de Puccini, em solo de privilegiado tenor, justamente na hora em que o Marcel Davi subiu para receber o seu diploma das mãos do Dr. Brentani. Confesso, chorei feito criança. Há nove anos atrás, em uma belíssima manhã de domingo, na praia da Ponta Verde, com a presença do saudoso Enéias Freire, presidente do Galo da Madrugada do Recife que tirou de lá pela primeira e única vez o seu estandarte , fizemos ao som da orquestra Vulcão, o batizado do Pinto. Foi o nascedouro, dentro dos rigores dos rituais de Momo, do hoje Pinto da Madrugada. Neste sábado de manhã a diretoria do Pinto e uma comitiva de mais de 40 pessoas vão se dirigir a Penedo para batizar o Ovo da Madrugada, nascente bloco de carnaval penedense. Assim será a cerimônia do batizado: os estandartes dos dois blocos partirão lentamente em direção um do outro, vão se aproximando, enquanto uma orquestra tocará os frevos do Pinto e do Ovo; quando se encontrarem e se reverenciarem, tocará o Vassourinhas, pipocarão os fogos e o champanhe será aspergido no novo estandarte -- estará batizado o Ovo da Madrugada. Será uma explosão de alegria, e se alguém fraquejar será de pura e incontrolável emoção. Como dizia o poeta: o que é pra rir, também é pra chorar. (*) É médico e professor da Uncisal.