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A incrível história da medicina

A incrível história da medicina
Marcos Davi Melo - médico e membro da Academia Alagoana de Letras e do IHGAL
Desde tempos imemoriais que homens ficam doentes e outros se propõem a curá-los. Acredita-se que o surgimento da medicina seja contemporânea dos primeiros funerais, quando os vivos enterravam seus mortos para poupá-los dos animais selvagens. A antropóloga Margaret Mead afirma que o primeiro sinal de civilização foi o encontro, no Paleolítico, de um fêmur fraturado e soldado, pois isso exigiu cuidados ao fraturado.
Era uma medicina feita à base de ervas e de magia, que conviveram muito tempo, sendo a trepanação (orifício no crânio) feita para expulsar os maus espíritos. Amputações também eram realizadas, o que necessitava de apoio para a sobrevivência do amputado. Depois da medicina da pré-história, com o advento da civilização gregária, vieram por ordem histórica as medicinas egípcia, judaica, chinesa e grega - a medicina romana era majoritariamente exercida pelos gregos.
A medicina no Egito era essencialmente religiosa, baseada num mito fundador, Osíris , o deus da ressurreição dos mortos. O historiador Heródoto, no século V a.C., considerava a medicina egípcia a melhor do mundo. Cada médico tratava uma doença. Tinham médicos para as “doenças ocultas nos olhos” e até os “pastores dos anus”. Praticavam regularmente a trepanação.
Tradicionalmente, os princípios médicos dos hebreus estariam contidos no Torá, o livro que foi passado a Moisés pelo Eterno no monte Sinai. No Torá, a doença é a expressão da cólera divina, mas Deus também tem o poder de curar. Muito dessa medicina era exercida a base de regras de prevenção e higiene, de substâncias animais e vegetais.
A medicina chinesa era amparada na tradição das duas forças dominantes no mundo e na saúde: o yin e o yang, símbolos, da oposição e complementariedade entre os dois sexos: os meridianos estariam repletos de pontos que poderiam ser estimulados com agulhas (acupuntura) ou pelo calor (moxabustão). Ao contrário das medicinas da Antiguidade, a chinesa se baseia na filosofia e não na religião. Os médicos são filósofos e não sacerdotes. Ao contrário das outras medicinas tradicionais, a chinesa é praticada ainda hoje também no ocidente.
A medicina grega advinha da mitologia: Zeus recomendara a Pandora que não abrisse a caixa proibida, Pandora desobedeceu, abriu a caixa e liberou a doença, a loucura, a fome e a miséria, que passaram a assolar a terra e os homens. A tradição da Grécia antiga era que as doenças eram um castigo dos deuses e só pelos deuses poderiam ser curadas.
Daí, a chegada Hipócrates, médico oriundo da ilha de Cós que desafiou os dogmáticos dos endeusamentos e das superstições ao afirmar: “As doenças não tem nada a ver com os deuses”. Ele ensinou, mostrou e descreveu em 60 obras, os sintomas, os sinais e os tratamentos nos pacientes naturalmente. Apontou sinais ainda hoje utilizados, como os dedos em baqueta de tambor. Hipócrates revolucionou e ainda hoje é a maior referência da vitória da medicina científica sobre a superstição e a magia. No dia dos médicos, 18 de outubro, faz-se necessária uma reflexão sobre a imperiosa necessidade dos médicos se ampararem na ciência, na empatia e na solidariedade e jamais se vergarem às superstições e às ideologias.