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Os acad�micos

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MARCOS DAVI * Voltaire passava por Soissons quando recebeu a visita de representantes da Academia de Soissons, que diziam ser esta academia a filha mais velha da Academia Francesa. “Sim senhores, respondeu ele – a filha mais velha, filha ajuizada, bem comportada, que nunca deu motivos para que se falassem dela”. O que move os homens a se agruparem e a formarem as academias pode ser uma motivação nobre, como a criação de um fórum adequado para a discussão literária, ou para o debate científico de temas de interesse coletivo. As academias científicas possuiriam propósitos ainda mais instigantes que as de letras, entre eles a abordagem aberta de temas polêmicos. Pasteur, quando apresentou pela primeira vez as vacinas que salvariam tantas vidas, foi não só duramente criticado como cruelmente menosprezado pela Academia de Medicina de França. Os três novos acadêmicos que esta semana entraram para a Academia Alagoana de Medicina são conhecidos profissionais em Alagoas. O José Medeiros é recordista em funções representativas da sociedade civil. Foi professor, secretário de Estado, deputado. Mestre do manuseio da oratória, atualmente dedica-se com entusiasmado vigor à Sociedade dos Escritores Médicos, da qual é o presidente reeleito. A professora Dinalva é emérita patologista. Dedicou-se aos estudantes da Escola de Ciências Médicas – onde chegou a presidente da Uncisal – ao mesmo tempo que estudava ao microscópio as lâminas que dariam o diagnóstico definitivo da mais obscura enfermidade. A responsabilidade de dar o veredicto definitivo: se aquele tumor que acometia o pescoço daquela criança tão viçosa seria ou não um agressivo câncer que lhe ameaçaria a vida ainda a desabrochar. O Hélvio Ferro é um renomado intensivista, como são chamados os médicos que militam nas UTIs. Este campo da batalha derradeiro entre a vida e a morte. Zona de trabalho das mais desgastantes, formou conceituada equipe multidisciplinar, onde ponteia como mestre e oráculo respeitadíssimo, apesar da jovialidade. Acreditado em todo o País, é constantemente chamado para proferir palestras e conferências sobre sua especialidade nos quatro cantos do Brasil e a latere, ainda exerce com proficiência a clínica médica. Aí é também um primus inter pares. As academias podem ser uma fogueira de vaidades. O bordão de imortalidade dada a seus membros pode ser um atrativo para muitos que cobiçam os títulos pelo que possam representar em seus currículos, mas isto será irrelevante para os que acreditam que estas podem ter uma função muito maior e significativa, contribuindo no encaminhamento da discussão e da resolução de questões relevantes no interesse maior da sociedade. As academias, se de alguma forma agregam valor intelectual – e presume-se, a Academia Alagoana de Medicina teria esta possibilidade, não podem nem devem deixar de debater sem restrições as questões mais cruciais ligadas não só às suas respectivas áreas de representação, como a todas aquelas que interessem prioritariamente a comunidade. Seu presidente, Antônio de Pádua, certamente estará atento. Afinal, vivemos uma época de perplexidades e desafios que abalam os alicerces das estruturas mais sólidas do mundo ocidental – como as fraudes contábeis nas maiores corporações norte-americanas e a volúpia só lucrativa e vampiresca do Capitalismo como ora se pratica – e, conseqüentemente, mitos alicerçados profundamente em nossos inconscientes estremecem. Mais do que nunca o debate franco, profundo e honesto, faz-se necessário, sem preconceitos ou idéias preconcebidas. (*) É MÉDICO

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