Editorial
Resistências internas

Após mais de 25 anos de negociações, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia segue refém de impasses políticos internos do lado europeu, revelando as dificuldades de conciliar interesses nacionais com compromissos multilaterais.
A mais recente sinalização veio da Itália, cuja primeira-ministra, Giorgia Meloni, pediu prazo adicional para contornar a resistência de agricultores locais, um movimento que se soma à oposição já conhecida da França, igualmente preocupada com a competitividade do seu setor agrícola.
As declarações do Presidente Lula expõem, com franqueza, o paradoxo central do tratado: embora economicamente mais vantajoso para a União Europeia, o acordo enfrenta barreiras políticas dentro do próprio bloco. Ainda assim, Lula tem insistido que o valor do pacto transcende cifras comerciais. Trata-se, segundo ele, de um gesto político relevante em defesa do multilateralismo.
O impasse atual reforça uma lição recorrente na diplomacia comercial: grandes acordos não fracassam apenas por divergências técnicas, mas sobretudo por cálculos políticos domésticos. Se a União Europeia não conseguir superar suas resistências internas, o risco é desperdiçar uma oportunidade histórica.
