Capacidade de surpreender

O ano econômico contrariou, em vários pontos, previsões feitas no início de 2025. Sob juros elevados e com apostas majoritárias em desaceleração mais severa, o que se viu foi um mercado de trabalho surpreendentemente robusto e uma inflação em trajetória mais benigna do que a prevista.

A taxa de desemprego de 5,2% no trimestre encerrado em novembro, a menor em mais de uma década, desmontou o consenso de que a Selic em 15% levaria a uma deterioração acelerada do emprego. Ao contrário, a ocupação cresceu, a informalidade recuou para 37,7% e a renda atingiu recorde histórico.

A inflação também seguiu na contramão das previsões iniciais. Projeções que apontavam um IPCA próximo de 5,7% foram sendo revistas para baixo ao longo do ano, até alcançar 4,32% no último Boletim Focus de 2025. A combinação de desaceleração gradual da atividade com um mercado de trabalho aquecido sustentou consumo e renda sem reverter o processo desinflacionário. Os sinais de arrefecimento da economia no segundo semestre foram reais, mas moderados. A resiliência do emprego tem funcionado como amortecedor dos efeitos dos juros, permitindo uma desaceleração mais lenta e organizada. A economia brasileira, mais uma vez, mostrou capacidade de surpreender.