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Escravos em Macei�

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LUIZ SÁVIO DE ALMEIDA * Há um informe sobre a população da Freguesia de Maceió para o ano de 1854, constando de fala pronunciada por José Antônio Saraiva. A Freguesia de Maceió era composta pelas povoações da cidade, Jaraguá, Poço, Bebedouro. A população se encontra dividida em livre, escrava e estrangeira. O negro e o pardo desaparecem e surgem claramente as duas grandes categorias políticas posicionadas em torno da liberdade. O total da Freguesia era de 8.608 habitantes, 79,% dos quais livres e 18,% constituídos de escravos. Isso nos dava uma razão para a Freguesia de praticamente cinco livres para cada escravo. Esta razão não era uniforme, com o máximo de oito para cada escravo em Bebedouro e de quatro livres para cada escravo na área de Maceió. Se levantarmos a hipótese de que existe uma relação direta entre padrão de riqueza e possibilidade de ter escravo, Bebedouro seria o território mais pobre da Freguesia. Praticamente igualados estariam Jaraguá e Poço e, acima de todos temos Maceió. Basicamente, a Freguesia de Maceió poderia (reduzindo aos termos da época) ser considerada urbana, embora não integralmente articulada, tanto que cabe bem a designação de povoação ao Poço e Jaraguá. Maceió como centro de serviços estaria em condições de maior riqueza. Em Maceió estavam 61,00% da população livre e 68,00% da escrava; com esse quantitativo diferenciado, respondia por sua função no contexto da economia urbana em articulação. A ele secundava a função porto do lado da área de Jaraguá, onde estavam 21,% dos homens livres e 18,% da escrava. Seguiam-se 10,% dos livres em Bebedouro e 6,% dos escravos. O Poço ficava com 8,% da livre e o mesmo percentual para os escravos. A posição de Maceió fica nitidamente distanciada em face do quantitativo de livres e escravos. Jaraguá, embora detendo a segunda colocação, fica distante de Maceió, enquanto Poço e Bebedouro tendem a um grupo. Apesar de todos os dados estatísticos estarem sob reserva pelo questionamento que se pode fazer à qualidade, parecem revelar a diferenciação que se plasmava na constituição urbana de Maceió e o escravo estaria revelando, mais uma vez, quanto a dominação se fazia pelo cabedal de riqueza. Por outro lado, parecem demonstrar, também, que acumulação realizada através de Jaraguá desviava o fluxo da riqueza para os dois distritos que compunham Maceió, especialmente o que se postava ao centro, onde devia estar o padrão mais alto de poder de mando. Sendo esta afirmativa verdadeira, a sustentação da massa escrava derivava das funções regionais da economia urbana. Jaraguá sendo ponto de intermediação em razão do fundeadouro plantado pela enseada do mesmo nome era, também, ponto de transferência de riqueza e, com isso, pela lógica estabelecida pelo sistema, detinha a segunda maior massa escrava. Evidentemente, há um problema central no encaminhamento desse raciocínio: não se encontra determinado o universo rural de Maceió. Não se sabe efetivamente o que havia de produção rural na Freguesia. Não nos parece, contudo, que isso prejudique a proposição referente à acumulação. Em 1856, os mesmos dados aparecem para caracterizar populacionalmente a Freguesia. São novamente apresentadas por Sá e Albuquerque no relatório anterior ao da temporada do cólera que será levada ainda no ano de 1856. Não se pode dizer que não houve mudança: alguma deve ter acontecido. Era impossível que a dinâmica demográfica estivesse estacionada na Província. O que não mudou foi a visão governamental de ver a repartição da riqueza na Freguesia, bem como da massa escrava. (*) É PROFESSOR DA UFAL E DOUTOR EM HISTÓRIA

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