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sábado, 05/07/2025 | Ano | Nº 6004
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Decad�ncia

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DOM FERNANDO IÓRIO * A doença mortal deste início de século é a indiferença, a perda de gosto na procura das razões últimas pelas quais vale a pena viver e morrer. Vislumbra-se ?noite no mundo? não por causa da falta de Deus, mas porque os homens já não sofrem com essa ausência no vazio do coração. Perdeu-se a paixão pela verdade, perdeu-se a saudade de Deus. Parece que o verdadeiro exílio do povo de Deus na Babilônia começou, quando Israel aprendeu a suportá-lo. Com efeito, o exílio não se inicia quando se deixa a pátria, senão quando não se tem mais saudade dela. O rosto do novo século é de decadência. Decadência não é o abandono dos valores, não é desprezo, não é renúncia a certo modo de viver. Decadência é processo por demais sutil, capaz de privar o ser humano da paixão pela verdade, roubando-lhe o gosto de combater por uma razão mais elevada. O decadente procura submeter o outro aos próprios cálculos e interesses, sem preocupar-se com a verdade. É rápido em pôr-se de acordo com tudo e com todos, na procura da própria afirmação. O decadente esvazia de força o valor, porque não suporta medir-se com ele. É o rosto da condição da pós-modernidade. No clima de decadência, tudo conspira para conduzir os homens a já não pensarem a verdade, fugindo do verdadeiro valor para aquele abandonar-se ao imediatismo fruível, calculável, visando ao imediato consumo. Permita-se-me asseverar: decadência é o triunfo da máscara à custa da verdade, é a trágica renúncia ao amor, quando fogem os homens à dor infinita da evidência do nada. O decadente fabrica máscaras por trás das quais oculta a tragicidade do vazio. Na onda da decadência, até o próprio amor transforma-se em hediondas máscaras e os homens resumem-se, no dizer de Paul Sartre, ?numa paixão inútil?. Fala-se da ?cultura forte? fragmentada em inúmeras ?culturas débeis?, onde cada um se debruça sobre o curto horizonte do seu limitado interesse. São solidões sem horizontes comuns. Onde falta a paixão pela verdade tudo é possível, até a solidariedade pode abraçar cálculos vulgares. Felizmente, o espaço de decadência não exclui sinais de luz e lampejos de esperança. Vislumbra-se intensa nostalgia de uma perfeita e consumada justiça, como se nascesse aquela procura do sentido perdido. Não se trata de saudade (?une recherche du temps perdu?), senão de ingente esforço para reencontrar o sentido para além do naufrágio, para reconhecer um horizonte último do qual é possível medir o caminho daquilo que é penúltimo. Caminhamos para a procura do outro e do outro, ao alcance da verdade. No final de contas, a verdade é o inocente que alcança o decadente com a discrição da sua presença de amor. Ela não é algo que se possui, mas Alguém que, amorosamente, nos persegue, com ternura, maternalmente, paterna. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS

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