Opinião
A droga pra cavalo que burro toma

Há algumas semanas a polícia civil fez a apreensão em duas farmácias da capital alagoana de dezenas de ampolas de um composto vitamínico de uso veterinário, comercialmente chamado de Potenay. A droga, vendida em frascos de 10 ml (dezinho) ao preço de dez reais, é recomendada para cavalos com quadros de anemia e não tem nenhuma indicação para uso humano. Inicialmente o Potenay fora utilizado por homens jovens que praticavam artes marciais, logo se estendendo às academias de musculação como potente energético para aqueles que buscam a perfeição física de forma acelerada, provocando expressivo aumento de demanda nas casas veterinárias. Como a venda de produtos veterinários não exige a apresentação de receita médica, os comerciantes perceberam a transformação no perfil de seus clientes, que já não se apresentavam com vestes próprias do meio rural e sim, jovens com roupas coladas no corpo exibindo seus músculos. Comprar na casa veterinária e injetar numa farmácia demandava logística que os jovens consideravam limitadora ao consumo, fato que despertara a atenção para farmacêuticos inescrupulosos que passaram a vender e aplicar o Potenay em suas insuspeitas farmácias. Ali se apresentam rapazes e moças que injetam a droga para fins diversos ? uns objetivando ganhar energia para puxar ferro nas academias, outros para ficar ligados por horas ou alguns dias em festas não muito inocentes. A droga também já alcançou o meio policial, principalmente os integrantes de grupos de operações especiais que não conseguem o padrão físico determinado sem a ajuda de estimulantes químicos. Um policial militar, proprietário de uma academia de musculação que funcionava até na madrugada, foi investigado como suspeito de ser distribuidor da droga em Maceió. Morreu antes do término do processo. O usuário pode passar anos sem demonstrar sua dependência química, mas as longas e contínuas farras e o posterior sono de mais de 12 horas, a sudorese excessiva e o consequente cheiro ruim nas axilas são indicativos do uso da droga. Irritabilidade, ansiedade e intolerância em casa, baixo rendimento na escola e no trabalho também são comunicados dos dependentes aos seus familiares. Os mais freqüentes e longevos que encontram dificuldades em injetar a droga, passam a picar pernas, costas, virilha e até os órgãos sexuais. Alguns usuários de cocaína que experimentaram Potenay confirmaram a semelhança do efeito que chamam de barato ou viagem entre elas, perigosa evidência que eleva ainda mais o consumo da droga pra cavalo que burro toma. (*) É delegado de Polícia Civil ([email protected]).