Opinião
General Euler

LINCOLN CAVALCANTE * Faleceu, há poucos dias, o meu amigo General Euler Bentes Monteiro do seu passamento, poucas notícias na imprensa. Lamento. Pelo que fez pela Nação ? Exército, Sudene e restauração democrática, particularmente, a mídia não lhe fez justiça, em manchetes ou várias colunas, tal merecida. Ainda assim, lá num cantinho da ?Istoé?, de 27. Julho findo, está: ?Morre o General Democrata?. O General Euler Bentes Monteiro morreu na terça-25, vítima de falência múltipla dos órgãos, em sua casa, no Rio de Janeiro. Disputou a eleição indireta para a Presidência da República em 1977 quando o Brasil vivia ainda sob a ditadura militar. Era o candidato da oposição a Ernesto Geisel ? quem assumiu foi o general João Figueiredo. Bentes Monteiro foi um dos primeiros a aderir à Frente Nacional pela Redemocratização, movimento fundado pelo senador da Arena, Magalhães Pinto. Um texto curto, com valia de uma manchete na nossa história. Arrola-me apenas como seu amigo, é pouco. Passou a ser meu correligionário e líder desde quando, companheiros do Curso Superior de Guerra em 1962 ? ele conferencista do Corpo Permanente e eu estagiário ? passei a integrar o seu ?estado-maior? na Sudene, como diretor do Departamento de Recursos Humanos. Nos meus arquivos placáveis há uma pasta ?General Euler?, bem volumosa, com dezenas de documentos (cartas, telegramas, cartões, fotos, sobre o nosso relacionamento, pessoal e funcional. Destacam-se as suas cartas, todas manuscritas, com 2 ou 3 laudas; as minhas, todas ?dedografadas?, bem mais longas. Por que tão longas? ? É que ele, ao deixar a Sudene, solidário e demissionário, quanto eu, junto ao nosso chefe e ministro gen. Afonso Albuquerque Lima, pedira-me, textualmente: ?Gostaria muito de estar permanentemente informado sobre o Nordeste. Se você puder fazer aí a triagem, seria ótimo. Peço conversar com o Stanley a respeito, pois a coordenação é necessária. (Carta de 29 4. O cel. Stanley fora o seu superintendente-adjunto. Tornei-me, assim, seu informenta, com muita honra... e muitas laudas. Mantivemos, também, longas conversas nas visitas que lhe diz, no seu retiro em S. Pedro da Aldeia, ou no apartamento da R. Figueiredo Magalhães. Era um nacionalista, um democrata e um humanista ? convicto. De uma das suas falas, quando na Sudene, transcrevo: ?A palato. Na realidade, a economia, como qualquer programa de produção, somente se justifica se colocada a serviço do homem. Por outro lado, nada justifica o desenvolvimento se ele não tiver por objetivo servir todos. Não é lícito ? como acentua a Populorum Progresso ? aumentar a riqueza dos ricos e o poder dos fortes, confirmando a miséria dos pobres e tornando maior a escravidão dos oprimidos?. Como você bem percebeu, comentei mesmo a ironia de voltar a batalhar em uma área ? Plan/Faz ? do governo, cuja política e métodos de ação não aceitava e onde não tinha aceitação?. Mais adiante, concluindo: ?Nada de permanente frutifica demagogia e com hipocrisia; e pelo menos não perdi a minha liberdade pensamento e de ação, que repousam, antes de mais nada, no respeito próprio?(O destaque, em caixa alta, é meu). Consintam-me, com orgulho e imodéstia, testemunhar para a história. Nas buscas, entre os militares, de um candidato à presidência, coube-me aproximar o Teotônio Vilela do Euler. Pedi ao saudoso amigo José Macário Dantas (procurador, compadre e amigo maior do Euler) levasse o Téo ?pai? para conhecer o Euler, visitando-o no seu apartamento da Figueiredo Magalhães, Copacabana. Foi uma espécie de ?amor à primeira vista?. Tornaram-se, de logo, companheiros e conspiradores contra a eleição do João Figueiredo. Daí, nasceu a candidatura do Euler à Presidência. Ao perguntar-lhe, no escritório do Macário, como iam os seus comícios ? apesar de eleições indiretas, o MDB fazia comícios respondeu-me: ?Só tinham público e graça quando estava a Bruna Lombardi nos palanques?. A estrela da TV tornou-se a musa da campanha. E, agora, José? O que se acha da Patrícia Pilar nos comícios do Ciro? Moral e final da história: se ainda não me defini em termos masculinos, em matéria de mulher sou Patrícia 10 x. (*) é professor da Ufal (aposentado), membro do Instituto Histórico e da Associação Alagoana de Imprensa