Opinião
Risco vizinho

Pobre Uruguai, agora é a bola da vez. Enquanto a confusão na Argentina não mais faz manchete, os saques e desespero do povo uruguaio ocupa grandes espaços na mídia internacional. E grande imprensa brasileira trata a questão como se isso nada tivesse a ver o Brasil. Um dos mais conhecidos comentaristas chegou a falar na TV que essa era uma questão de cabeça. Pobre Brasil, que vê o mundo ruir a sua volta, e insiste em desconhecer que as causas da quebra dos vizinhos é o caminho adotado para a estabilização de suas economias no mesmo sentido e direção do seguido pelo Brasil. O traçado brasileiro foi outro, mas isso é secundário, pois a orientação econômica (e submissão política) é a mesma. Na Argentina e no Uruguai as normas foram ditadas pelos grandes credores internacionais, com destaque especial para as imposições e empréstimos do FMI. Calados, os governos dos dois países vizinhos fizeram o dever de casa. Tiraram nota 10, todos os anos, no boletim dos credores. E nota zero na caderneta do povo. Deu no que deu. No Brasil, o governo federal aplica o receituário prescrito pelos grandes credores há oito anos. Pagou todas as exigências, queimou as estatais mais rentáveis, cortou investimentos sociais e no desenvolvimento, pegou mais empréstimos para pagar novas e velhas obrigações da dívida externa. No fim de toda essa epopéia de subserviência, o País deve ainda mais. E vai, novamente, ao FMI, buscar mais dinheiro emprestado para pagar ao próprio FMI e outros associados nesse grande negócio. Como estranhar a corrida ao dólar, o aumento do risco-Brasil, a pobreza aberrante do País? Como achar que a quebradeira da Argentina e do Uruguai deve-se ao fato desses países serem menores que o Brasil? A dívida externa deles também é menor que a nossa e os seus indicadores sociais eram melhores que os nossos. Nesse caso, tamanho não é documento. O Brasil deve se preocupar com o tamanho do risco que corre. Argentina e Uruguai devem servir de exemplo. Ainda há algum tempo disponível para evitar um desastre maior, mas depende da autoridade do governo.