Opinião
Presidenci�veis e povo

MILTON HÊNIO * Sou nordestino apaixonado por minha região. Por onde ando vou cantando e enaltecendo a minha terra alagoana. Sua gente, seu folclore, sua gostosa culinária, sua belíssima natureza, fazem de nossa terra um verdadeiro paraíso. É pena que esse pedaço tão gostoso do Brasil, que é o nosso Nordeste, seja tão sofrido, tão cheio de injustiças e contrastes. Com uma área de 1 milhão 674 mil 298 quilômetros quadrados, representa 19,46% do território nacional. Tem 62% do seu território localizado no chamado Polígno das Secas, uma das regiões mais pobres do Brasil, sujeita a secas periódicas. Contrastando com uma natureza belíssima como o luar do nosso sertão, um extenso e deslumbrante litoral, a religiosidade do seu povo, o IBGE nos mostra dados que nos entristecem: absurda mortalidade infantil; só no ano de 2000 morreram mil crianças até 3 anos de idade de doenças evitáveis, tendo como pano de fundo a desnutrição e a pobreza. Uma verdade guerra. Apenas porque não há barulho de canhões, espocar de bombas, matraquear de metralhadoras, roncos de aviões, a sociedade fica indiferente a ela. Com a grande ajuda da Pastoral da Criança, sob o comando da Dra. Zilda Arnes, a situação da criança nordestina melhorou de forma considerável nos últimos anos. Mario Pinotti, grande higienista e que em certa época ocupou o Ministério da Saúde, dizia o que ainda hoje se aplica: Povos sadios são os povos economicamente organizados, com distribuição eqüitativa dos bens. Povos doentes, banidos e devastados pelo flagelo das doenças de massa são os pobres, de economia insipiente, desorganizados e incultos. Essa é, infelizmente, a situação de muitos brasileiros. Existe no Nordeste uma população em torno de 40 milhões de habitantes dos quais apenas 13 milhões têm emprego fixo e desses 75% recebem apenas 1 salário mínimo. Portanto, a renda da população nordestina é muito baixa, levando assim ao estado de desnutrição a sua gente pela impossibilidade de adquirir o alimento necessário à sua sobrevivência. O IBGE nos mostra que atualmente o Brasil tem 52 milhões de miseráveis, dos quais 22 milhões estão abaixo da linha de pobreza,, pois ganham menos de 100 reais por mês. Portanto, esse imenso número de seres humanos, nossos compatriotas, não têm direito a nada, nem sonhar podem, pois a fome não deixa. Nenhuma sociedade pode florescer e ser feliz enquanto a grande maioria dos seus membros for constituída de pobres e miseráveis, dizia o escritor Adam Smith. É verdade. Estamos em pleno ano eleitoral. Os candidatos à Presidência da República não param de dar suas declarações sobre seus programas de governo. A maioria do povo brasileiro, principalmente o nordestino, que é um povo simples e paciente, não se interessa por programas complexos. O que o povo quer são coisas simples, o mínimo que lhes possa fazer feliz. Qualquer presidente que seja eleito tem que usar o poder para realizar o bem comum, a partir de baixo, dos excluídos. O povo exige pouca coisa do político ética e amor ao próximo. O povo quer trabalho, com esse trabalho sendo dignamente pago, quer comida, casa para morar, educar os filhos, ter segurança, saúde, cultura e um pouco de lazer para ser feliz, torcendo pelos seus times e brincando nos fins de semana. Só isso e mais nada. Entretanto, como é difícil conseguir esse mínimo de desejos! Max Weber em seu famoso texto A política como vocação já nos dizia: Quem faz política só busca o poder. Chegou a hora entretanto, dos políticos de um modo geral, deixarem de pensar só no poder e participarem dos sonhos do povo, tentando de toda sorte aliviá-los de tanto sofrimento. (*) É MÉDICO