Vem e v�

DOM JOSÉ CARLOS MELO, CM * O mês de agosto figura no calendário da Igreja como o mês vocacional e nos convida a aprofundar o sentido e a importância de cada vocação no povo de Deus: a vocação cristã em geral ou vocação do homem para Deus, as vocações específicas para o matrimônio, para o sacerdócio e para a vida religiosa consagrada. Ao mesmo tempo, ele nos exorta e nos motiva a assumir decididamente uma posição mais definida para com a Pastoral Vocacional, que merece uma atenção prioritária. Ela suscita, anima e promove as vocações. Primeiro, a vocação é um Dom de Deus. Ela é a manifestação do amor de Deus que chama, escolhe e envia para uma missão. Por isso, se diz que Jesus “chamou os que Ele quis”. Isto eqüivale dizer que a vocação não é um direito e não é o resultado de uma reivindicação do homem. Ela é um Dom gratuito de Deus. A este respeito, costumo afirmar: “Por trás de toda vocação está o amor de Deus que chama, escolhe e envia”. Também por trás de toda resposta à vocação de Deus está o amor do homem com todo o dinamismo do seu amor e com todas suas limitações e fraquezas. No primeiro capítulo do seu evangelho, João nos diz que depois de chamar André e Simão Pedro, Jesus partiu para a Galiléia e, ao encontrar-se com Filipe, disse: “Segue-me”. Este, por sua vez, profundamente marcado pela graça do chamado, diz a Natanael: “Encontramos o Senhor”. Natanael, porém, querendo minimizar a procedência da graça, exclama: “De Nazaré pode sair algo de bom?” Com o mesmo impulso da descoberta, Filipe afirma: “Vem e vê!” Estas duas palavras tão curtas revelam uma realidade: a experiência do dom divino do chamado (Jo 1, 35-51). A Pastoral Vocacional, as necessidades e os desafios da Igreja hoje nos remetem à experiência de Jesus que, diante das multidões sedentas da palavra de Deus, disse a seus discípulos e a nós: “Pedi ao Senhor da colheita que mande operários para a sua colheita. A situação pastoral da Arquidiocese de Maceió, de modo particular e urgente, reclama uma Pastoral Vocacional e de conjunto que conjugue a ação e a participação de todos. Ela é prioritária em nossa ação pastoral porque é uma questão de sobrevivência. Em Montreal, no Canadá, de 18 a 21 de abril deste ano, realizou-se o III Congresso Continental sobre a pastoral das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. O tema do Congresso: “Vocação: Dom de Deus” exprime muito bem a dimensão fundamental da vocação sacerdotal ou religiosa para os nossos dias. A este respeito, em carta de 12 de abril, João Paulo II dizia: “Nesta perspectiva, a promoção das vocações ao ministério sacerdotal, ministério este que representa um dos elementos constitutivos da Igreja (cf. Pastores dabo vobis, 16), adquire uma índole absolutamente prioritária”. O Senhor continua a chamar numerosos jovens a desempenhar este ministério. Contudo, a sua voz é com freqüência sufocada por outras que, infelizmente, confundem o espírito dos jovens, e inclusive por conceitos acerca do sacerdócio e do ministério presbiteral, que não estão em conformidade com a fé e a tradição eclesiais. E acrescentava: “Diante disto, sente-se a necessidade de uma ação pastoral mais aprofundada, capaz de apresentar esta vocação na sua integridade e de oferecer o auxílio necessário àqueles que são o objeto do convite do Senhor: ‘segui-me, e Eu falarei de vós pescadores de homens’” (Mc 1,17). É preciso criar uma atmosfera adequada a estes jovens. É indispensável que haja modelos eloqüentes, capazes de fazer brilhar aos seus olhos a grandeza e a sublimidade do sacerdócio ministerial, assim como a profunda felicidade que se sente, ao entregar-se totalmente a Cristo, ao serviço da Igreja. Isto os encoraja a seguir Jesus, que deseja enviá-los como ministros dos sacramentos, a fim de que repitam as suas próprias palavras: “Este é o meu corpo, este é o meu sangue”, ou então: “Eu perdôo-te todos os teus pecados!” Oportunamente, a arquidiocese elaborará uma programação especial para a Pastoral Vocacional, como prioridade maior. A celebração do Ano Vocacional em 2003 nos sustentará no aprofundamento da proposta do Apóstolo Filipe aos jovens: “Vê e Vê!” (*) É ARCEBISPO METROPOLITANO DE MACEIÓ