loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
quarta-feira, 25/06/2025 | Ano | Nº 5996
Maceió, AL
24° Tempo
Home > Opinião

Opinião

A eternidade e o desejo

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

A amiga Renira de Moura Lima, emprestou-me o romance A eternidade e o Desejo, da portuguesa Inez Pedrosa. O nome da autora fez-me lembrar daquela outra Inez, a de Castro, eternizada por Camões. Observou-me Renira ? bem sabe ela aguçar-me a curiosidade! ? que o romance tem cada movimento encabeçado por excertos dos Sermões, do Padre Antônio Vieira (1608/1697). A história é deveras interessante e malgrado a aparente singeleza do tema ? o amor ? a Inez de agora desvenda Vieira naquilo que interessa à trama, segue-lhe os passos, busca interar-se com as prédicas do sacerdote seiscentista. Compõe ela duas Claras. Há a Clara cega e a Clara que enxerga; a Clara que, instigada pelo amante Antônio, vem ao Brasil com a pretensão de aprofundar-se no conhecimento do jesuíta luso-brasileiro, e a Clara que aqui vive e, induzida pelo marido Antônio, é também apaixonada pelo missionário; Clara, a amante, que cegamente ama Antônio, e a outra que o amou mesmo sabendo-o infiel. Amou-o esta com a visão clara e exata de sua alma masculina, inquieta e imatura, e com o pragmatismo da mãe garantindo a prole; amou-o a cega que não queria enxergar e adiante conhece a verdade dele. Quando o leitor compreende a unicidade da trama, a Clara esposa se concilia com a ?outra?, pois são uma só, embora plural. Assim como aqui dito, canhestramente, parece um romance banal de história meio complicada e até maçante. Nada disso! O romance é vivo e, por conseguinte, dinâmico. Nele encontramos reflexões sobre a vida e informações importantes em relação ao sincretismo religioso brasileiro. Poder-se-á nele ver muito de existencialismo. Ademais, é seu substrato a ambiguidade da mulher, esse ser multifacetado que nós homens pensamos entender, tarefa mais apropriada a um Hércules. Vieira ? embora em outro contexto, mas entre galante e cáustico ? da mulher diz que, mesmo sendo ?tão dourada como a aurora, tão prateada como a Lua, e tão formosa como o Sol, por outra parte é tão terrível, tão formidável e temerosa como um exército armado posto em campo?. Não sendo Hércules, sejamos então Prometeu, a elas amarrados, morrendo e renascendo a cada dia. (*) É advogado militante ([email protected]).

Relacionadas