Opinião
Folcloristas

LUIZ GONZAGA BARROSO FILHO * A música, a dança, o artesanato, os jogos, a medicina popular, a culinária, os cultos religiosos, a literatura oral (poesia, contos, lendas, mitos, crendices, superstições, adivinhas, anedotas e provérbios) são alguns componentes do nosso folclore, cuja contribuição para a cultura brasileira é inestimável, embora não seja reconhecido pelas elites que teimam em discriminá-lo, considerando-o uma coisa exótica ou lúdica, apenas. Na verdade, o Folclore é um ramo da ciência antropológica que se relaciona estreitamente com a História, a Sociologia, a Geografia, a Psicologia, a Arte, a Lingüística e com outras disciplinas que estudam o homem e o seu meio social. Em Alagoas, o seu rico populário sempre despertou o interesse de estudiosos e pesquisadores que conseguiram perpetuar registros preciosos, sem os quais diversas manifestações não seriam conhecidas ou já se teriam perdido no tempo. Desde a publicação de Subsídio ao Folclore Brasileiro (Anedotas sobre Caboclos e Portugueses; lendas, contos e canções populares; etc.), em 1897, primeira obra sobre o nosso folclore escrita pelo alagoano Júlio Campina, pseudônimo de Luiz Tenório Cavalcante de Albuquerque, é notória a dedicação de muitos eruditos ao estudo da cultura popular, creditando-se a Alagoas a fama de ser a terra dos grandes folcloristas. Assim como o arqueólogo inglês William John Toms, que empregou o termo folclore (folk-lore), pela primeira vez, em 22 de agosto de 1846, numa carta publicada no semanário The Ateneum de Londres, solicitando sua colaboração na tarefa de recolher antigüidades populares visando preservar as tradições dos usos e costumes do povo, um grupo de intelectuais alagoanos, na cidade de Viçosa, por volta de 1926, encabeçou um movimento com o mesmo objetivo de Toms. O movimento pioneiro e marcante na história da cultura em Alagoas teve como principais representantes os folcloristas Théo Brandão, José Maria de Melo, José Pimentel da Amorim e Aloísio Vilela, que levavam ao conhecimento da comunidade, pelo semanário local, os resultados de suas investigações dos fatos folclóricos, surgindo, desse modo, a Escola Folclórica de Viçosa, denominação dada pelo etnólogo e folclorista Manuel Diégues Júnior, reconhecendo o trabalho sério de proteção e divulgação realizado por seus representantes, que, conforme as diversas modalidades de manifestações, produzirem obras da real importância para o estudo do folclore alagoano, cabendo ao mestre Théo Brandão cuidar principalmente dos folguedos tradicionais (reisados, guerreiros, cheganças, pastoris e baianas); José Pimentel de Amorim, da medicina popular, curandeirismo, rezas e benzeduras; Aloísio Vilela, da poesia popular, do coco alagoano e repentes de cantadores, e, sob a responsabilidade de José Maria de Melo, os contos populares, sentinelas e adivinhas. Todos os trabalhos realizados mereceram prêmios e elogios da crítica, sendo considerados clássicos no gênero e, hoje, servem de referência para todos aqueles que se dedicam ao estudo do nosso folclore. Além da obra dos criadores de Escola de Viçosa, também são indispensáveis os trabalhos deixados por Artur Ramos, Manuel Diégues Júnior, Abelardo Duarte, Alfredo Brandão, Félix Lima Júnior, Paulino Santiago e Pedro Teixeira, alguns deles reconhecidos pela comunidade científica internacional, mas, infelizmente ignorados pelo grande público, que permanecerá desconhecendo uma valiosa fonte de pesquisa, enquanto o estudo do folclore não se tornar obrigatório nas escolas. (*) É ADVOGADO E MEMBRO DA COMISSÃO ALAGOANA DE FOLCLORE