Opinião
Perigosamente perto

MARCOS DAVI MELO * Eram apenas 6 horas da manhã. Começava um dia aparentemente igual aos outros. O sol de inverno se levantava preguiçosamente no sereno horizonte do mar da Jatiúca, e as calçadas da praia lá estavam repletas com os habitues do cooper matinal. O sossego e a placidez da manhã foram quebrados bruscamente nas imediações do Alagoinhas. Ali no quiosque onde hoje se instala um posto da Polícia Civil, um carro brecou ruidosa e subitamente. De dentro um homem pulou gritando desesperadamente. Mais dois jovens, entre 19 e 20 anos, armados e agressivos, tentaram sofregamente sair do veículo. Os policiais presentes foram ágeis e conseguiram prendê-los, evitando mais uma tragédia imprevisível. Era uma tentativa de seqüestro, abortada providencialmente pelo tirocínio da vítima, que estancou o carro naquele local. Isto foi noticiado pela imprensa. O que não constou nos noticiários da mídia foi a reação das outras testemunhas. Enquanto a polícia controlava os seqüestradores, dois irmãos com idades entre 18 e 19 anos, eram rodeados por pequeno grupo de esportistas, que em coro, arrematava: ?Mata, mata, mata!?. A GAZETA DE ALAGOAS e os noticiários da mídia desta semana mostraram com destaque a tentativa de atentado contra o ex-governador Manoel Gomes de Barros e a apreensão do juiz de direito Hélder Loureiro com a sua segurança pessoal e a da sua família. Ambos são vítimas de justificadas preocupações, diante da liberação de condenados por atos de extrema violência. Sem alternativas, muniram-se de guarda-costas para todos os momentos do dia e da noite, além de terem suas vidas tumultuadas e alteradas irremediavelmente. Há algo de errado em ambas as situações. No seqüestro, a reação das pessoas que caminhavam na praia cedo da manhã, ainda descontraídas e relaxadas. Diante da tentativa frustrada de seqüestro, não se conformaram apenas com o abortamento da ação criminal e a prisão imediatas dos jovens bandidos. Queriam mais, muito mais, queriam eliminar imediatamente os seqüestradores. A moral de ambas as estórias parece-me clara. Os meios de repressão à criminalidade, entre eles a Justiça, não trazem a necessária confiança e segurança nem ao ex-governador, nem a autoridade judiciária das mais respeitadas na praça, que chiaram com receio frente à liberação dos reeducandos. Pode-se estranhar que o cidadão comum sinta igualinsegurança e queira bárbara e impulsivamente fazer justiça com as próprias mãos? Estamos muito mais próximos das soluções radicais ? entre elas a pena de morte, oficial ou oficiosa -, do que possamos imaginar, reconhecer ou querer. Os que são moderados e respeitam as soluções equilibradas e não enxergam outro caminho que não seja o respeito às leis e às regras de uma sociedade civilizada podem estar perdendo terreno, mas não devem desanimar. O testemunho corajoso de cidadãos, como o juiz Hélder Loureiro, servirá de exemplo e de guia, para a manutenção da fé nestes princípios e num amanhã melhor. (*) É MÉDICO