A palavra de Deus � quem abre para a verdadeira miss�o
Toda a vida cristã depende de um encontro pessoal com o Deus vivo; e isto fazemos mediante um instrumento que é a palavra de Deus. Ele no seu imenso amor, fala aos homens como a amigos e conversa com eles, para os convidar e admitir a participarem da sua
Por | Edição do dia 21/02/2010 - Matéria atualizada em 21/02/2010 às 00h00
Toda a vida cristã depende de um encontro pessoal com o Deus vivo; e isto fazemos mediante um instrumento que é a palavra de Deus. Ele no seu imenso amor, fala aos homens como a amigos e conversa com eles, para os convidar e admitir a participarem da sua comunhão (Dei Verbum 3. Esta conversa cheia de amizade se dá em um lugar bem determinado, que em uma linguagem espiritual e bíblica, chamamos de deserto: Por isso, eis que vou, eu mesmo, seduzi-la, conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração (Os. 2,14b). Lembremos aqui os primeiros passos do ministério de Jesus e de sua presença na deserto da Judeia! A palavra de Deus está ligada a uma experiência de relação pessoal, de fé com o Deus vivo! Nesta experiência com a palavra e no deserto experimentamos o nosso nada, e todas as falsas seguranças começam a perder sua consistência. Também as falsas imagens que temos de Deus e aquelas que fazemos de nós mesmos e da realidade, começam a se diluir. Lembremo-nos do encontro de Elias com Deus vivo no Monte Horeb, no coração do deserto. (1Rs. 19, 9-14). Ele é levado a livrar-se de ideias pré-concebidas de Deus e da realidade e, ao encontro com o totalmente outro, reconstrói-se a si mesmo e é impelido a tocar a vida no ritmo de Deus. No deserto, Deus não pode ser manipulado, ele se nos revela na eterna surpresa de sua presença e nos proporciona a capacidade de refazermos as imagens pré-concebidas que temos sobre ele e nos abrirmos corajosamente para o novo que nos espera. Estaria Deus no barulho e nos estridentes cantos e gritos rituais dos nossos dias e de muitas das nossas assembleias ditas modernas? Estaria nas cataratas gritantes de pregadores ambulantes? Gritai mais alto; pois, sendo um deus, ele pode estar conversando ou fazendo negócios, ou então, viajando; talvez esteja dormindo e acordará (1 Rs. 18, 27)! O esvaziamento que o Deserto provoca em nós, conduz-nos a uma nova e surpreendente visão da realidade e da história. Começamos a enxergar o mundo com os olhos de Deus. Nossa relação com Deus, com os nossos semelhantes e com as coisas criadas adquire uma nova dinâmica: experimentamos o amor misericordioso de Deus para conosco e nos tornamos mais humanos e amorosos em nossas relações com todo ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. O deserto exerce o poder de dar consistência aos ideais e atitudes que sustentam a nossa vida, proporcionando-nos a capacidade de respondermos aos apelos e desafios que a realidade com a qual interagimos nos impõe. (*) É arcebispo metropolitano de Maceió e religioso da Ordem Carmelita.