Polícia
PMs vivem e trabalham nas casas de Beira-Mar

A Polícia Militar é a maior ?inquilina? do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. O carioca tem, desde 1996, cerca de R$ 14 milhões em bens seqüestrados cautelarmente pela Justiça. Dos 22 imóveis confiscados nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, pelo menos seis são utilizados para sediar batalhões da corporação e residências de policiais. Dois prédios e um casarão na Rua Castro Alves, lotes 3, 4, 5, 6, 7 e 8, no bairro Horto 2, região metropolitana de Betim, viraram um quartel da Polícia Militar ? o 33º Batalhão. Pelo menos outros três imóveis ? uma casa, um apartamento e um edifício com 15 apartamentos ? são residências de 14 PMs e um agente federal. Entre os ?inquilinos? de Beira-Mar, está o major Domingos Sávio Fernandes, subcomandante do 33º Batalhão. Ele e a família ocupam uma casa de dois pavimentos, avaliada em R$ 200 mil, na Rua Inácia de Miranda, no Ingá, bairro de classe média alta de Betim. Mas ninguém da corporação mineira ou da vizinhança estranha ou critica o fato. ?A Justiça decidiu por bem nomear a Polícia Militar de Betim como fiel depositária desses bens. Assim, como o batalhão não tinha sede própria, nós fizemos uma reforma no imóvel e o ocupamos, em novembro de 2000. Já a casa da Rua Inácia de Miranda, número 80, ficou como residência funcional?, disse o tenente-coronel Valdemar Roberto, comandante do batalhão. Em Vitória, no Espírito Santo, no entanto, a notícia de que o prédio de Fernandinho Beira-Mar havia sido invadido e ocupado por policiais militares escandalizou não só a população, como o próprio Comando Militar. Edifício à beira-mar Assim que surgiram os primeiros rumores de que o edifício à beira-mar era do traficante, o então comandante Júlio César determinou à Corregedoria a abertura de um inquérito policial militar (IPM) para apurar eventual formação de quadrilha entre PMs e Beira-Mar. A principal suspeita era de que os policiais pudessem estar morando no Lazer Park, instalado à beira da praia, na Rua Leblon, em Guarapari (ES), com anuência do traficante, em troca de possíveis ?favores?. Dois meses depois, o então corregedor Jackson de Souza Pimenta encerrou as investigações. Em seu parecer, ele afirmava não haver indícios de crime militar. Como via indicações de crime de invasão, encaminhou o caso ao Ministério Público Estadual. Lá, o procedimento também foi arquivado. Agente federal morava no apartamento de Fernandinho Beira-mar Em setembro de 2002, segundo a advogada Nadir Dias Bragança, a Justiça Estadual capixaba acabou concedendo aos policiais invasores uma ação de justificação de posse ? o direito legal da moradia ?, sem saber que o bem fora seqüestrado seis anos antes pelo Poder Judiciário mineiro. Nadir disse que a proprietária do imóvel nunca fora encontrada. Mas o nome dela, Sueli Maria da Penha, consta no processo criminal de BH que condenou Beira-Mar pela primeira vez por tráfico de drogas. Segundo o advogado Adalberto Lustosa de Matoss, Sueli teria entrado na Justiça para embargar o seqüestro do prédio. O apartamento em que Beira-Mar morava, na Rua Minas Novas, 165, no bairro Anchieta, também de classe média alta, foi durante anos ocupado pelo agente federal Celso Figueiró Rodrigues, um dos responsáveis por sua prisão. Segundo os vizinhos, nos últimos dois anos, o imóvel foi ocupado por outro agente federal conhecido como Wellington. Ele teria deixado o imóvel ? agora desocupado ? há um mês. No total, Beira-Mar teve 97 bens ? entre veículos, móveis e imóveis ? seqüestrados. Bloqueio O juiz Eli Lucas de Mendonça, então titular da12ª Vara de Tóxicos do Fórum Lafayete de Belo Horizonte, ainda bloqueou cerca de R$ 1 milhão depositados em 36 contas correntes e cadernetas de poupança. Só em nomes de seus nove filhos, havia cerca R$ 700 mil. Esse processo está em andamento e promete muita dor de cabeça ao julgador do mérito da ação, pois, com exceção de dois apartamentos registrados em nome de Fernandinho Beira-Mar, todos os demais bens ? galpão, casas, terrenos e apartamentos ? estão em nome de oito testas-de-ferro do traficante. Esses laranjas seriam pessoas de estrita confiança do traficante, como parentes, mulheres e amigos. Uma tia de Beira-Mar, Neruás Luiz Teixeira, por exemplo, figura como dona dos três imóveis que viraram quartel em Betim.