Polícia
�nibus capota e mata turistas na AL-101

FÁBIA ASSUMPÇÃO REGINA CARVALHO Repórteres A perda de controle de direção, seguida de um capotamento e a queda em ribanceira de um ônibus de Turismo, placa MVI-1272 de Maceió, provocaram, na manhã de ontem, a morte de 10 turistas e deixaram 33 feridos. O motorista do ônibus fugiu do local. Sete pessoas morreram na hora. Outros três óbitos foram registrados no Hospital Municipal de Porto Calvo e na Unidade de Emergência Armando Lages. O acidente aconteceu por volta das 7 horas da manhã, no quilômetro 95, da AL-101 Norte, a três quilômetros do acesso do município de Porto Calvo, a 98 quilômetros de Maceió. O ônibus com 44 passageiros - a maioria turistas do interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília- saiu de Maceió por volta das 5 horas da manhã, para um passeio turístico em Maragogi, a 128 quilômetros da capital. Os turistas estavam hospedados nos hotéis Jatiúca, Ritz Lagoa da Anta e San Marino e Porto da Praia. Testemunhas Por ser muito cedo, a maioria deles ainda dormia na hora do acidente e poucos sobreviventes souberam dizer o que realmente ocorreu. Chovia muito também e, de acordo com algumas testemunhas, o motorista teria tentado desviar de uma mulher que atravessava a pista. Ele ainda teria atropelado a mulher e depois perdeu o controle do veículo, caindo numa ribanceira próxima a um riacho. A suposta mulher, que tinha nos braços uma criança, seria integrante de um acampamento de sem-terra, que fica a poucos metros do local onde o ônibus capotou por duas vezes e tombou. Pelo menos três turistas foram encontrados esmagados debaixo do ônibus. Há suspeitas de que ele dirigia em alta velocidade, porque o ônibus quando caiu se encontrava na marcha 7, a de mais alta velocidade. Muitos turistas escaparam porque pularam pela janela. ### Socorro às vítimas mobilizou ambulâncias e UTIs da Samu O socorro às vitimas do acidente mobilizou pelos menos 10 ambulâncias do Serviço Médico de Urgência (Samu) e mais duas da Secretaria Executiva de Saúde (Sesau). As ambulâncias de municípios vizinhos a Porto Calvo, Maragogi e Matriz do Camaragibe também deram suporte aos feridos. Pelo menos 30 pessoas receberam os primeiros socorros no Hospital Municipal de Porto Calvo. A diretora-administrativa da unidade, Eronita Sponito, disse que toda a equipe de médicos e enfermeiros do Programa de Saúde do município foi mobilizada para fazer o atendimento das vítimas do acidente. ?Temos 10 equipes do PSF no município, todos foram convocados para trabalhar no hospital?. Feridos Como os feridos não paravam de chegar, alguns eram atendidos na porta do hospital, mesmo sob chuva. Depois de receber os primeiros socorros, os que estavam em estado mais grave foram transferidos para a Unidade de Emergência Armando Lages. O casal Gerson Ramalho Wanderley Neto e Juliana Batista de Azevedo estava com passagem marcada para voltar amanhã a Brasília. ?Esse ia ser o nosso último passeio em Alagoas?, comentou Ramalho. Gerson e Juliana estão hospedados no Ritz Lagoa e disseram que foram apanhados no hotel para o passeio a Maragogi por volta das 5 horas da manhã. ?Não vimos nada na hora do acidente?, afirmou Gerson. Ele disse que não sabia onde estava a bolsa em que carregava seus documentos, dinheiro e alguns objetos de praia. INQUÉRITO Como se tratava de um passeio, a maioria dos passageiros tinha deixado a bagagem no hotel e estava apenas com roupas e objetos de praia. O chefe de Operações da Delegacia Distrital de Porto Calvo, Alexandre Henrique Pereira, disse que o delegado vai abrir inquérito para apurar as causas do acidente. Alexandre acrescentou que havia informações de que o motorista do ônibus estava apenas ferido e recebeu atendimento médico. Mas não soube informar para qual hospital ele teria sido encaminhado. |FA/RC ### Turistas vivem drama em corredor da UE A primeira vítima do acidente chegou à Unidade de Emergência (UE) por volta das 9h30. O movimento permaneceu intenso até o início da tarde. Vinte e seis vítimas chegaram à UE até o início da tarde de ontem. Dentre elas uma menina de seis anos, Lorena Mazelli, com algumas escoriações. A informação dos dez óbitos foi confirmada pelo pronto-socorro e a gerência da Transamérica Turismo. Sete das vítimas fatais morreram no momento do acidente, uma a caminho do hospital e mais duas na Unidade. O paulista André Bueno, transtornado e de olhos fixos no corredor lotado de feridos, recebia apoio psicológico da equipe de atendentes da Unidade de Emergência. Ele estava inconformado com a morte da esposa, Geiza Mércia Filiace, de 27 anos, com que estava casado há apenas três semanas. A viagem para Alagoas era a lua-de-mel do casal e a visita às galés de Maragogi faria parte de mais um passeio turístico no litoral. Geiza não resistiu aos ferimentos e acabou falecendo na UE. O representante da editora Abril Ademar Ferreira procurava notícias de um casal de amigos de Rio Claro, Minas Gerais, que estava em Maceió há uma semana. ?É lamentável essa situação. Essa é a primeira vez que eles visitam Alagoas?, informou. Transferência Dezoito pacientes foram transferidos para os hospitais Sanatório e do Açúcar e dez ambulâncias foram acionadas para fazer o transporte das vítimas, sendo oito do Samu e duas da Secretaria de Saúde. Sensibilizados com a tragédia em Porto Calvo, cerca de 100 cadetes da Academia de Polícia compareceram voluntariamente ao Hemoal para doar sangue. Pela primeira vez o cadete Luís Gonzaga Melo Filho, 21 anos, doou sangue. ?Viemos por conta própria porque ficamos sensibilizados com esse acidente?, disse o militar. Emanuele Vitorino, 22 anos, também estava no hemocentro. ?Nossa obrigação é salvar vidas, por isso estamos aqui?, declarou. Guias de turismo também estavam na UE e declararam que doariam sangue para as vítimas. Maria Ângela Monteiro, proprietária da Transamérica Turismo, declarou que informações sobre vítimas somente com a empresa CVC, que traz os turistas para Maceió. A Transamérica, segundo Maria Ângela, recepciona os turistas e providencia a transferência para pontos turísticos e a empresa Atual presta serviços à CVC. A proprietária da Transamérica qualificou como fatalidade o acidente em Porto Calvo. ?É uma fatalidade e ninguém tem culpa pelo que aconteceu?, declarou Maria Ângela. O motorista do ônibus, que continua foragido e transportava os turistas para Maragogi, foi identificado apenas como ?seu Xuxa?. De acordo com a proprietária da Transamérica, o motorista tem 10 anos de experiência e o ônibus foi comprado, segundo ela, há seis meses. Apesar de testemunhas terem declarado que o ônibus estava em alta velocidade, Maria Ângela alegou que o acidente foi provocado porque o motorista tentou desviar de uma mulher com uma criança, que tentava atravessar a pista. ?Temos testemunhas que viram isso e que também sabem que essa senhora chegou a ser atendida em um hospital?, informou Monteiro. Três vítimas fatais não eram clientes da Transamérica, segundo Maria Ângela. ?Elas entraram no ônibus para participar do passeio e acabaram morrendo?, concluiu. Equipes de funcionários da Transamérica foram divididas e estiveram durante todo o dia de ontem na Unidade de Emergência, Instituto Médico Legal e no hospital Arthur Ramos, onde alguns pacientes precisaram ser submetidos à cirurgia. Ainda emocionadas, vítimas que apenas tinham sofrido escoriações ou ferimentos, sem a necessidade de intervenção cirúrgica, continuavam em silêncio, mesmo depois de chegarem à Unidade de Emergência. Inquérito O chefe de Operações da Delegacia Distrital de Porto Calvo, Alexandre Henrique Pereira, disse que o motorista do ônibus estava apenas ferido e recebeu atendimento médico. Mas não soube informar para qual hospital ele teria sido encaminhado. O trabalho de resgate das vítimas do acidente mobilizou policiais militares, do Corpo de Bombeiros e ambulâncias das secretarias municipais da região de Porto Calvo. Fiscais da Agência Reguladora de Serviços Públicos (Arsal), agentes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e policiais do Batalhão de Policiamento Rodoviário Estadual também participaram da operação. Dois carros do Instituto Médico Legal (IML) se deslocaram para Porto Calvo para recolher os corpos. Entre os mortos, havia muitos parentes, como Adelina Grande e Paulo Grande, que eram sogra e genro, respectivamente. A mulher de Paulo Grande, Mirna Grande, foi atendida no Hospital de Porto Calvo. Passageiros Outro passageiro que morreu na hora foi Carlos Afonso da Silva, de Pirituba/SP, o único a ser identificado no local do acidente, porque estava com a Carteira de Identidade no bolso da calça. O trabalho de resgate das vítimas do acidente foi dificultado por causa do número de curiosos que foram ao local e não respeitavam sequer o cordão de isolamento colocado pelo Corpo de Bombeiros. O trânsito também ficou lento na altura do quilômetro 95 da AL-101 Norte, porque muitos motoristas paravam para dar uma olhada. No IML, houve demora para a identificação dos corpos, já que muitas vítimas fatais estavam sem os documentos na hora do acidente. Veja no quadro abaixo a identificação dos 10 mortos na tragédia. RC/FA ### IML divulga a lista de mortos nos acidentes Esta é a relação dos dez mortos fornecida pelo IML de Maceió, no começo da noite de ontem. A relação se baseia na documentação que estava com eles ou nos hotéis de Maceió. Paulo Roberto de Oliveira, 59 (SP); Rodrigo Alvarez Santiago, 30 (SP); Adelina Viola Grandi, Fábio de Souza Cruz, 41 (RJ); Lia Rodrigo da Silva, 61 (RJ); Danilza Maria Mazelli, 42 (SP); Lourdes Ramalho de Campos, 73 (SP) e Carlos Afrânio da Silva, 53 (SP). Geiza Mércia Feliace, de 27 anos, de São Paulo, e Edna Alzira Palos, de 65 anos, também de São Paulo, chegaram a ser encaminhadas para a UE, mas não resistiram. |FF