Polícia
Morte de Renildo: 12 anos na lista de crimes insol�veis

MARCOS RODRIGUES Repórter O julgamento dos acusados de envolvimento no assassinato do vereador de Coqueiro Seco, Renildo José dos Santos, foi adiado pela segunda vez. Ontem, entidades de defesa dos direitos humanos e dos homossexuais e sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) realizaram um ato público, em frente ao Tribunal de Justiça (TJ). Segundo Marcelo Nascimento, ex-presidente do Grupo Gay de Alagoas, o caso Renildo é uma das principais demonstrações de injustiça do Estado. É muito tempo de impunidade. Nós estamos na rua para não deixar o crime ficar sem solução, destacou Nascimento. Entre as razões para o adiamento do julgamento estão a existência de falhas no libelo, peça processual que define os crimes cometidos contra Renildo. No ano passado o julgamento também havia sido adiado pelo mesmo motivo. À época, por precaução, o promotor do caso, Marcus Aurélio Gomes Mousinho, optou pelo adiamento para evitar que o julgamento pudesse ser anulado. PRESSÃO Ontem, para engrossar o grito por justiça, várias entidades sindicais compareceram à Praça Deodoro. O presidente da CUT, Issac Jackson, disse que a Justiça não pode ficar sem dar respostas ao clamor da sociedade. Mesmo com a morosidade da Justiça, é inaceitável um processo demorar 12 anos para ser concluído. Esperamos que os culpados possam ser condenados para que se tire a imagem de que Alagoas é o Estado da violência e da impunidade, destacou Isaac. O sindicalista também não ficou satisfeito com a decisão da Justiça pelo adiamento do julgamento dos envolvidos. Sofrimento A irmã do vereador, Marleude de Lima Santos, também compareceu ao ato convocado pelo GGA. Ela disse que ao longo de 12 anos o sofrimento pela morte se transformou em força para a busca por justiça. Coincidentemente a luta para que se faça justiça é igual ao tempo em que eu estou fora do Estado. Justamente por cobrar a prisão dos envolvidos, passei a ser ameaçada, lembrou Marleude. Diante das informações de que o adiamento é uma precaução, Marleude se conformou, mas enfatizou que a luta continuará. Estamos felizes, de certa maneira, porque tudo está para ser resolvido. Mas esses adiamentos são difíceis para a família, completou a irmã de Renildo, lembrando que seus pais, que ainda moram em Coqueiro Seco, também estão ansiosos por justiça. O caso O vereador Renildo José dos Santos foi morto com requintes de crueldade, em 1993. Depois de ser seqüestrado, na casa dos pais, ele foi submetido a uma sessão de torturas que culminou com o seu degolamento. O corpo foi encontrado sem a cabeça numa tentativa de dificultar o reconhecimento. Renildo foi degolado ainda com vida, além de ser castrado e ter os membros superiores decepados. Dias depois do crime sua cabeça foi encontrada às margens de um rio no município pernambucano de Água Preta. Na época em que o crime aconteceu, Renildo fazia oposição ao prefeito da cidade Tadeu Fragoso, filho de José Renato. Fragoso chegou a ir a júri por envolvimento no crime, mas foi absolvido. As razões para o crime, entretanto, nunca foram esclarecidas. Para as entidades de Direitos Humanos e para o GGA, entre as razões para a morte estão a condição de homossexual de Renildo, que chegou a assumir publicamente. Quando o caso voltar à pauta do Tribunal de Justiça, serão julgados os ex-PMs Luís Marcelo Falcão, Paulo Jorge de Lima e Antônio Virgílio dos Santos Araújo. Um quarto envolvido, Walter Silva está foragido. A morte de Renildo teve repercussão fora do País por meio da Anistia Internacional.