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quinta-feira, 20/03/2025 | Ano | Nº 5927
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Jovem embriagado atira e mata colega

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BLEINE OLIVEIRA Repórter Os gemidos do jovem Davi Hora Barros Omena, 18, vão ressoar por muito tempo na cabeça dos jovens Petrúcio Soares Filho, Felipe Rocha Melo e Felipe Wanderley. Ontem, quando foram ao Departamento de Polícia do Interior (Depin), depor sobre o crime, eles pareciam não acreditar que presenciaram o momento em que Davi foi atingido pelo tiro de pistola, disparado por Rodolfo Amaral, 18, um dos vários amigos com quem estavam na madrugada de ontem, em São Miguel dos Campos. Após cerca de 15 horas em coma profundo, Davi não resistiu e morreu ontem, por volta das 18h, na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Em estado de choque, os três rapazes foram ouvidos pelo delegado de São Miguel, Antônio Carlos Azevedo Lessa, a quem confirmaram ter sido Rodolfo, filho do empresário Raimundo Câmara Amaral, das lojas Amaral Jóias, quem disparou contra Davi Barros Omena. Segundo o relato das testemunhas, tudo aconteceu de repente. Por volta das 3h30, quando os quatro amigos se preparavam para retornar a Maceió, depois de assistir ao show na praça multieventos de São Miguel, Davi pediu a Rodolfo as chaves do carro, um Gol preto, de propriedade da família da vítima, alegando que o mesmo não estava em condições de dirigir, já que havia bebido em excesso. Rodolfo não concordou, recusou-se a entregar as chaves, começando uma discussão com Davi. Resignado, Davi aceitou que o colega dirigisse. “Tá, véio. Mas se acontecer um acidente e a gente morrer, eu venho lhe buscar”, teria dito Davi Barros Omena, entrando no carro ao lado de Rodolfo Amaral. ### Disparo à queima-roupa, no carro, atingiu rosto de Davi Os dois amigos, no banco de trás, ainda riam com as palavras de Davi Hora Barros Omena quando foram surpreendidos pela atitude de Rodolfo Amaral. Inesperadamente, ele puxou a pistola que trazia dentro de um porta-CD, tirou o “pente” (onde ficam os projéteis) e, empunhando a arma, apontou para a barriga de Davi. “Você pega ninguém, gordinho!”, disse Rodolfo. O gesto foi interrompido pelo disparo que atingiu o lado esquerdo do rosto de Davi. Os fatos seguintes mostram o desespero dos três jovens que, como disseram ao delegado Antônio Carlos Lessa, não acreditavam no que havia acontecido. Desesperado, Rodolfo sacudia Davi e pedia para o amigo parar de brincar. “Fala alguma coisa Davi”, gritava Rodolfo. Inerte, Davi apenas gemia, aumentando a tensão entre os rapazes. Segundo Petrúcio Soares Filho, Rodolfo entrou em choque, desceu do carro e ficou andando de um lado ao outro pedindo que alguém socorresse Davi. Em seguida, o próprio Rodolfo entrou no carro e seguiu desnorteado em busca de um hospital da cidade. Sem saber o que fazer, as duas testemunhas tentavam se comunicar com os pais e com outros amigos que também estavam em São Miguel. Já na saída da cidade, Rodolfo recebeu uma ligação de Felipe Rocha Melo, que também é amigo de Davi. O jovem pediu ajuda, dizendo que Davi havia sofrido um derrame e que estava sangrando muito. Assustado, Felipe Rocha, que estava acompanhado da namorada, foi ao local (segundo as testemunhas teria sido próximo à ponte sobre o rio São Miguel). Lá, ouviu o relato de Petrúcio, Felipe Wanderley e de outro rapaz identificado como Segundinho, sobre o que acontecera. Percebendo o descontrole de Rodolfo, pediu que ele saísse do carro. Felipe entrou no veículo onde Davi ainda estava e decidiu retornar a São Miguel em busca de socorro. Rodolfo ficou no local com a namorada de Felipe. O atendimento foi precário. Não havia condições de assistência. Demorou muito até que fosse providenciada ambulância para transportar Davi até a Unidade de Emergência Armando Lages. ### Autor do crime teria atirado para cima antes de show As testemunhas disseram que foi uma surpresa saber que Rodolfo Amaral viajou armado para a festa em São Miguel dos Campos. “Ninguém sabia”, disse Segundinho, no depoimento ao delegado Antônio Carlos Lessa. Os rapazes só viram a arma pouco antes de chegar à cidade quando Rodolfo fez dois disparos para o alto. A arma, que a polícia ainda não descobriu a quem pertence, estava escondida num porta-CD. Depois do disparo, a pistola teria sido jogada no rio São Miguel por uma das testemunhas. Sem assistência adequada no hospital de São Miguel, Davi Barros foi colocado numa ambulância e transferido para a Unidade de Emergência Armando Lages. O advogado Petrúcio Soares, pai de um dos amigos de Davi, chegou ao local pouco tempo depois do episódio. Ele disse que acompanhou Rodolfo Amaral até Maceió. “A todo instante ele repetia que não atirou”, disse Petrúcio Soares, que telefonou para o pai de Rodolfo chamando-o para vir buscar o filho. Segundo o advogado, o pai pediu que Rodolfo fosse deixado no estacionamento da loja Palatto, na Ponta Verde, que ele iria buscá-lo. O advogado se recusou e decidiu esperar Raimundo Amaral. O empresário chegou acompanhado de um homem, identificado como Batista, que seria um policial acostumado a acompanhar Rodolfo e “tirá-lo de confusões”. Essa pessoa cheirou as mãos de Petrúcio Filho e de Segundinho, dizendo em seguida, “não tem cheiro de pólvora”. Mas Raimundo insistiu em afirmar que a arma “passou de mão em mão”. Petrúcio reagiu dizendo: “Quem disparou foi seu filho”. Em seguida deixou os três e voltou para casa. Rodolfo Amaral estava desaparecido até o fechamento desta edição. ### Família decide doar os órgãos de Davi Apesar do sofrimento, a família de Davi Hora Barros de Omena, 18, não esqueceu da solidariedade. Logo após terem recebido a notícia da morte do rapaz, os parentes autorizaram a doação dos órgãos. Os médicos, imediatamente, iniciaram a cirurgia de retirada dos órgãos de Davi. “Não sei ainda quais órgãos poderão ser doados, mas acredito que a maioria. Davi tinha apenas 18 anos e era dono de muita saúde”, disse o avô da vítima, Marcelo Barros. “Meu filho era uma pessoa do bem, que não gostava de confusão. Davi nunca foi de briga. É muito difícil, mas a gente vai doar os órgãos”, confirmou, abalado, o pai de Davi, Luiz Omena Filho. Morte cerebral Na manhã de ontem, os médicos decretaram a morte cerebral de Davi Barros. Durante cerca de 15 horas, o jovem permaneceu em coma profundo, sob observação médica na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, para onde foi transferido, depois de ter dado entrada na Unidade de Emergência Dr. Armando Lages, no Trapiche da Barra. À tarde, Davi foi submetido a uma série de exames para constatar as chances de permanecer vivo. No início da noite, seu óbito foi confirmado à família. Davi não resistiu ao ferimento no rosto, causado pelo tiro disparado por Rodolfo Amaral, também de 18 anos, que está sumido desde a madrugada de ontem. A família acompanhou de perto o estado de saúde de Davi Barros. “Quando a notícia chegou para a gente, ele [Davi] já estava a caminho de Maceió, numa ambulância”, lembra Luiz Omena. Segundo ele, Rodolfo Amaral, o rapaz que deflagrou o tiro que acabou interrompendo a vida de seu filho, não era amigo íntimo da família. “Ele [Rodolfo] era apenas um conhecido de meu filho”, afirmou. De acordo com Luiz Omena, Davi era um jovem de muitos amigos. “Conhecemos os amigos dele, são todos bacana, mas não tem como saber, exatamente, com quem ele andava o tempo inteiro”, observou, dizendo que a família sabia apenas que os jovens iriam para a Barra de São Miguel. “Não sabíamos que eles iriam até São Miguel dos Campos”, contou. Investigação Luiz Omena afirmou que não vai deixar a morte de seu filho impune. “Isso não pode ficar assim. Meu filho foi vítima de uma violência muito estúpida”, disse, explicando que não houve luta corporal. “Meu filho não tinha nenhuma marca no corpo. É bom deixar isso claro para depois não dizerem que o tiro foi deflagrado por legítima defesa”, afirmou o pai de Davi, Luiz Omena Filho. Coincidentemente, a tia de Israel Sampaio, Edlânia Sampaio, trabalha na Santa Casa de Misericórdia e se solidarizou com a dor da família de Davi Barros. O sobrinho de Edlânia foi morto na porta da casa de show Marquês de L’atravéia, no dia 9 de janeiro deste ano, no Jaraguá, com um tiro na cabeça. “O assassino só está preso por causa da pressão que a minha família fez diante dos órgãos competentes”, disse ela. Segundo Edlânia, o acusado de ter matado Israel Sampaio, Diego Ramirez, será julgado no próximo mês, no Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes. CS ### Rodolfo atirou por brincadeira, diz pai O empresário Raimundo Câmara Amaral ligou, na manhã de ontem, para o delegado Antonio Carlos Lessa e tentou defender seu filho, afirmando que ele atirou por brincadeira. “É difícil acreditar que apenas uma brincadeira possa ocasionar numa tragédia como essa”, declarou o delegado. No início da tarde de ontem, policiais militares procuravam a arma do crime, que foi abandonada em local não identificado. “Não sabemos, ainda, a quem pertence essa arma”, disse Lessa. (Leia sobre a campanha de desarmamento na página A18). Luciene Omena, tia da vítima, declarou que Rodolfo Amaral e Davi Omena Barros eram colegas e que parentes de Davi estão inconformados com a tragédia. “A família está muito chocada com o que houve. Estamos sem saber direito o que aconteceu. Eles eram amigos e moravam próximos, costumavam ir às festas sempre juntos”, disse Luciene. O carro do tipo Gol, cor preta, placa MVD-5112 pertence a Marcelo Guimarães Barros, avô de Davi. Guiado pelos amigos da vítima, o veículo seguiu a ambulância até o Francês e foi abandonado num posto de combustíveis, próximo ao Batalhão da Polícia Rodoviária (BPRv). A pé Rodolfo, Felipe e Petrúcio seguiram a pé, depois de abandonarem o veículo, sem nenhuma intervenção da polícia. Davi é neto do ex-presidente da Telasa, Marcelo Barros. O veículo foi conduzido ao posto do BPRv, ainda, na manhã de ontem, onde foi periciado por homens do Instituto de Criminalística (IC). Uma camisa suja de sangue, um boné e uma cápsula de revólver calibre 22 foram encontrado no Gol. TIROS EM MARECHAL Moradores próximos ao município de Marechal Deodoro informaram à polícia que vários tiros foram deflagrados de dentro do carro, próximo ao trevo do Francês, quando os quatro amigos seguiam para São Miguel dos Campos. O delegado negou que o policiamento na praça multieventos esteja sendo insuficiente para coibir possíveis problemas. “Esse é o primeiro caso grave que registramos na festa”, declarou Antonio Carlos Lessa. RC

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