Polícia
Andar de �nibus vira aventura perigosa

MARCOS RODRIGUES Repórter A viagem de ônibus está se tornando uma aventura para motoristas, cobradores e passageiros. A insegurança, aliada à ousadia dos assaltantes, cria a cada percurso um medo coletivo. Em busca de R$ 30,00, R$ 50,00 os jovens assaltantes não hesitam na hora de atirar para conseguir dinheiro para comprar droga. Perigo que o motorista da empresa Veleiro, Nilton Falcão, 36, conhece bem. Ele levou dois tiros quando trafegava com um veículo microônibus nas proximidades da Igreja Virgem dos Pobres, no Vergel do Lago. O motorista conta que não reagiu ao assalto. Quando ia saindo, um rapaz deu com a mão. Parei, ele entrou e anunciou o assalto. Como estava com o carro em marcha, ele estancou. Aí ele achou que era uma tentativa de fuga e atirou. Só não morri porque tenho fé. Sou evangélico, relembra Nilton. O motorista é pai de cinco filhos e, segundo contou à Gazeta de Alagoas, pressentia os riscos que a rota que passou a dirigir oferecia. Acompanhado da esposa Raquel Alves, uma das filhas e de sua mãe Maria José, ele disse que não sabe como vai ser o retorno ao trabalho, mas garante que irá continuar na empresa. Foi a empresa, inclusive, que assumiu os custos hospitalares, já que num primeiro momento Nilton ficou internado na Unidade de Emergência (UE). Segurança Enquanto relembra o dia do assalto, ele lamenta que sua família também pode ser vítima de assaltantes. Para Nilton, ninguém está livre. É um problema de segurança. Precisaríamos de mais policiais para resolver o problema, apelou ele, criticando a presença de policiais nos gabinetes de parlamentares e secretários de Estado. A mãe do motorista confirmou já ter presenciado a ação de assaltantes num coletivo. Ela contou que dois homens renderam o motorista do ônibus com armas em punho. Já a esposa de Nilton disse que antes mesmo de o marido ter sido vítima dos assaltantes, vinha preocupada com os constantes casos de assaltos a ônibus. Eu já estava com o coração apertado, mas ele precisa e a gente mais ainda, afirmou. Nilton aguarda receber alta do hospital, o que pode ocorrer esta semana. ### Empresas mantêm toque de recolher Como a polícia ainda não conseguiu pôr fim aos assaltos, a ação dos bandidos impôs uma espécie de toque de recolher para as empresas. Os ônibus da Real Alagoas e os da Veleiro passaram a evitar a região do Dique Estrada, após as 17h30. A região mais perigosa fica próxima ao chamado Beco da Morte, que liga o Conjunto Virgem dos Pobres I ao Joaquim Leão. Essa área conseguiu superar o bairro do Clima Bom em número de assaltos a ônibus, segundo levantamentos feitos pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários (Sintro-AL). No Virgem dos Pobres, ao contrário do que se imagina, não é o horário noturno o de maior perigo, mas entre as 16h e 18h. Os bairros do Feitosa e Benedito Bentes também são considerados mais perigosos no período diurno. Os números apresentam uma realidade da falta de controle da segurança. Em seis meses foram registrados 206 assaltos a coletivos. A ação dos assaltantes deixou vítimas entre os profissionais. Além do motorista Nilton Falcão, ficou ferido, nesse período, o profissional José Angêlo da Silva. Depois de levar dois tiros, ele ficou cego de um olho. O motorista Antônio Luiz Cândido Filho foi morto a tiros em Mangabeiras, quando fazia a linha Mirante-Vergel. campeã em assaltos Do início do ano até agora outros bairros, como Eustáquio Gomes, Jatiúca, Farol, Centro e Barro Duro, também sofreram com os assaltos. Nessas localidades, as ações ocorreram durante o dia, o que demonstra a ousadia dos assaltantes que contam com a impunidade. No ranking das empresas mais assaltadas a São Francisco é a que mais sofre. Foram 30 ocorrências nos últimos seis meses. Em segundo vem a Viação Cidade de Maceió, com 11 assaltos, ficando em terceiro lugar a Real Alagoas com nove ocorrências. A Real Alagoas registra um triste recorde. Na semana passada, cinco coletivos da empresa foram assaltados em três horas. Os assaltos ocorreram em pontos diferentes da capital, mas os levantamentos apontam para os mesmos assaltantes. Os sindicalistas dizem que o problema tem aumentado sem que a polícia apresente uma solução. Em todas as conversas com o comando da polícia apresentamos sugestões para evitar os assaltos, mas até o momento ainda estamos vulneráveis, diz o diretor do Sindicato dos Rodoviários, José Galvão. Entre os passageiros, o clima é de tensão. A maioria já alterou os horários para andar de ônibus. A dona de casa Sônia Maria da Silva é uma delas. Ela só se arrisca a andar de ônibus durante o dia. Sei que aqui no Dique Estrada tem ocorrido muitos assaltos, por isso venho para o ponto cedo, disse. |MR ### Blitze tentam, mas não evitam assaltos O aumento do número de assaltos a ônibus em Maceió provocou muita repercussão na polícia. Na semana passada, como forma de dar satisfação à opinião pública, a Polícia Militar iniciou operações relâmpago nos coletivos. As blitze em áreas estratégicas resultaram na prisão de oito suspeitos. A população reagiu positivamente às operações que não têm prazo para ser concluídas. A escolha das áreas se baseiam no número de ocorrências. FALTA EFETIVO Entretanto, o problema continua. Segundo fontes oficiais o batalhão, que conta com pouco mais de 7 mil homens, tem um déficit de 53%. Ou seja, faltam aproximadamente 3.500 policiais nas ruas. Para a realização das operações, por exemplo, os efetivos que vêm sendo utilizados estão sacrificando suas respectivas folgas para integrarem um equipe extra. Na reunião que teve com os sindicalistas e os empresários, os dirigentes da Polícia Militar também apresentaram suas deficiências, o que sugere que as blitze não devem permanecer. Para os empresários, os militares poderiam patrulhar suas respectivas rotas. É uma alternativa que pode dar resultados positivos, porque nós acreditamos que a presença dos policiais inibe as ações, defendeu o gerente-geral do sindicato que representa as empresas de ônibus, Aloir Barbosa Pinto. Ele falou também dos altos investimentos que foram feitos para a implantação das câmeras dentro dos coletivos. Segundo revelou, os custos por mês para manter o equipamento no sistema chegam a R$ 40 mil. Barbosa lembra que esse investimento não pode ser adicionado às tarifas porque não é considerado insumo. Além disso, existe a questão da gratuidade. No caso da Polícia Militar, por exemplo, por mês deixamos de arrecadar R$ 380 mil, disse. MR ### Empresários defendem ações policiais Os empresários também fazem os seus respectivos levantamentos. Assim como o sindicato dos trabalhadores, eles reconhecem que existe uma situação de descontrole em relação à segurança nos coletivos e defendem mais investimentos por parte do Estado. Esta semana os donos de empresas de ônibus vão fornecer ao secretário de Defesa Social de Alagoas, Robervaldo Davino, a relação das câmeras que foram instaladas nos coletivos. Para os rodoviários, no entanto, não basta apenas instalar câmeras nos ônibus. A categoria entende que esta, em vez de ser uma forma de dar mais segurança aos trabalhadores e usuários, é, antes de tudo, uma maneira encontrada pelos patrões de vigiar os profissionais. Um investimento, aliás, que não foi suficiente para afastar a violência que ocorre dentro dos coletivos. Para muitos, porém, a solução definitiva pode estar na tecnologia. Atualmente, nos grandes centros, o dinheiro deu lugar aos cartões recarregáveis. É o chamado dinheiro de plástico; mas isso é algo que não vai ocorrer de imediato, por isso defendemos ações policiais, afirmou o gerente-geral do sindicato que representa as empresas de ônibus em Maceió, Aloir Barbosa Pinto, para quem o Estado deve assumir os custos com os policiais que fizerem a segurança nos ônibus. Volta das Revistas Mas é das ruas de Maceió que surge o maior grito de reivindicações, que vêm justamente dos usuários de ônibus. No terminal da empresa Veleiro, no Dique Estrada, onde há o maior número de ocorrências, o motorista Antônio Ulisses da Silva defende que a polícia, por meio da Radiopatrulha, reviste suspeitos nos pontos. Tem que abordar todos os suspeitos, porque eles se misturam com os passageiros, alerta Ulisses. Nada a fazer Com dez anos de empresa e quinze de profissão, ele mesmo foi vítima de um assalto dois anos atrás. Crítico em relação à segurança para continuar trabalhando ele lembra que a forma de agir dos assaltantes impede a prisão. Eles nos rendem, levam o dinheiro numa rapidez muito grande. Quando acionamos a polícia ela vem, mas não existe mais nada a fazer, comenta Ulisses. O aposentado Luiz Severino da Silva, que mudou o horário de apanhar ônibus desde que a violência nos coletivos aumentou, completa: Em dia de pagamento da aposentadoria, prefiro ir a pé até o banco.