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Crian�as flagradas em roubo de carro

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CARLA SERQUEIRA Repórter A criminalidade em Maceió tem atraído cada vez mais crianças. Só este ano, 3.281 pessoas foram presas. Dessas, 820 são crianças e adolescentes, totalizando cerca de 40% das ocorrências. A maior parte usa armas de fogo nos delitos, como a Gazeta adiantou na matéria “Jovens se armam para praticar crimes”, publicada no último domingo, dia 14. Todos os dias, de acordo com o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), é praticada uma média de seis crimes por menores. Crianças de até 8 anos já possuem ficha criminal. O mais comum é assalto a estabelecimentos comerciais, no Centro da cidade. Um novo caso foi flagrado por populares esta semana. Os dois meninos têm 10 anos. Na tarde da última quarta-feira saíram para “passear” na Serraria. No percurso, cruzaram com um adolescente desconhecido de 16 anos, usuário de drogas. “Quero que quebrem o vidro do carro e me tragam o aparelho de som. Se não fizerem, mato vocês”, teria dito para as crianças, sob ameaça de uma faca. Com medo, R e A obedeceram. Usando uma pedra, quebraram o vidro. Em seguida, o alarme do veículo da empresa ARP Turbinas disparou. Todos saíram correndo. O adolescente, segundo os garotos, além de uma faca de mesa, portava um tubo de cola e conseguiu fugir. As crianças foram detidas por seguranças da empresa. “Se não disserem a verdade vão virar comida de leão”, ameaçou um dos seguranças. “Saímos de casa só para andar mesmo”, explicou A. “Quando encontramos o cheira-cola, ficamos com medo e resolvemos fazer o que nos pedia”. Os dois, segundo eles, cursam a 3ª série do ensino fundamental em uma escola no Benedito Bentes, onde residem. As crianças foram encaminhadas para a Delegacia de Menores e, em seguida, levadas para o Conselho Tutelar da região. “Casos como esses ocorrem todos os dias”, diz o conselheiro Ivaldo Júnior. “Toda semana reencaminhamos dez crianças para a casa dos pais”. Junto com outros quatro conselheiros, Ivaldo Júnior responde pelos bairros do Jacintinho, Feitosa, Barro Duro, Sítio São Jorge, Serraria, Antares e Benedito Bentes. “Nosso maior problema é falta de pessoal”, diz ele, afirmando contar com apenas um veículo para cobrir todas as regiões. Ontem, os dois garotos dormiram num abrigo público e à tarde foram levados de volta para casa. “Os pais terão que assinar um termo de responsabilidade”, determinou o conselheiro. Entre as obrigações expressas no termo, os pais de R, um vigia e uma empregada doméstica; e os pais de A, um vendedor de quebra-queixo e uma vendedora de cosméticos, terão que evitar más companhias para os filhos, acompanhar as atividades escolares e encontrar formas de ocupá-los no período da tarde, quando ficam ociosos. “Para se ter uma idéia, esses meninos foram detidos na quarta e até esta hora [tarde de ontem] ninguém os procurou”, disse Ivaldo Júnior, afirmando que o maior problema está na base. “São crianças que já crescem na liberdade de irem para onde quiserem, sem ter que dar satisfações”, frisa, relatando outro caso recente. “Uma menina de 10 anos foi iludida por um senhor no Benedito Bentes. Encontraram ela em União dos Palmares. Ela é a terceira a ser levada pelo mesmo senhor para prática de exploração sexual”. ### Crime cometido por menor cresce 30% Entre os anos de 2004 e 2005, os crimes cometidos por menores de 12 a 18 anos aumentaram em 30%, segundo a delegada Aureni Moreno. Todos os dias, dá entrada na Delegacia de Menores uma média de 25 infratores. As causas continuam sendo as mesmas. “A miséria e a falta de políticas públicas determinam a reincidência de adolescentes no crime”, afirma a delegada. Para o comandante do Policiamento da Capital, coronel PM Brito, o índice de pobres na capital se explica. “Se fizermos os cálculos, vamos encontrar uma realidade em que 60% dos maceioenses vivem abaixo da linha da pobreza. Para muitos, o caminho para a sobrevivência é a criminalidade”, diz ele. O tráfico, na opinião do comandante, tem atraído cada vez mais crianças para o crime. “A venda de entorpecentes rende cerca de R$ 50 por semana. No final do mês elas ganham quase um salário mínimo”, afirma, trazendo à tona o problema do desemprego e da falta de assistência social voltada para as famílias que criam seus filhos em áreas de risco, como as grotas e as ruelas da periferia. “O IBGE, por exemplo”, diz o coronel Brito, “quando vai contabilizar os moradores de uma cidade, não considera os moradores de uma grota. Estas pessoas sequer são incluídas em estatísticas”. A precariedade principalmente nos serviços de educação e saúde, somados à miséria em que já vivem essas crianças, na visão de Aureni Moreno, explica o aumento do número de infratores menores nas ruas de Maceió. De volta ao crime Na Delegacia de Menores, no Jacintinho, estão detidos dois adolescentes. As crianças com idade inferior a 12 anos são encaminhadas aos Conselhos Tutelares. “A grande parte dos adolescentes encaminhados para a delegacia é levada de volta para a casa dos pais”, conta a delegada Aureni Moreno. “O problema é que eles voltam, depois que são assistidos pela polícia, para o mesmo ambiente onde têm como vizinhos traficantes e criminosos”, revela. O crime mais comum, segundo informações de Aureni, são os furtos. “Mas têm crescido também os assaltos à mão armada”, afirma, dizendo que semanalmente é registrado pelo menos um caso de menores portando armas. O comandante do Policiamento da Capital disse que tem crianças usando até armas de brinquedo para coagir pessoas. As agressões também são constantes. “Esta semana um menor de 16 anos foi preso porque matou outro com pauladas. Com dois dias que estava solto, matou um segundo com golpes de faca”, disse Brito. A solução, na opinião dele, seria uma ação conjunta entre cidadãos e poder público. “Não se pode esperar sempre pelo governo”, diz ele. “Recebo muitas reclamações de lojistas que são obrigados a gastar com material de limpeza todos os dias. Eles alegam que os meninos de rua, durante a noite, deixam sujas as entradas das lojas”, disse, apresentando uma saída: “Uma idéia que dei foi que eles se unissem e alugassem um galpão no Centro para abrigá-los. Isso já é feito no Natal, onde é raro ver um menino na rua”. |CS

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