Polícia
Evang�licos s�o assassinados em Atalaia

EDNELSON FEITOSA MARCOS RODRIGUES Repórteres O sepultamento dos corpos dos irmãos evangélicos Elizafan Almeida de Lima, 39, e Eliane Almeida, 41, ontem à tarde, no cemitério Parque das Flores, foi marcado por revolta de familiares e amigos de Atalaia, onde moravam. Pela manhã, moradores da cidade bloquearam a rodovia BR-316, próximo à entrada de Atalaia, em protesto pela morte dos irmãos e pelo clima de violência que domina hoje o município. Elizafan e Eliane, filhos do principal pastor da igreja na cidade, Manoel Viriato, estavam desaparecidos desde a tarde da última segunda-feira e seus corpos foram encontrados ontem, amarrados, mutilados, com sinais de perfurações à bala, em um canavial na Fazenda Gavião, zona rural de Atalaia. Para o delegado Tarcisio Vitorino, que investiga mais um crime envolto em mistério ocorrido em Atalaia - a morte da jovem Macléia dos Santos ainda não foi elucidada - os dois evangélicos teriam sido vítimas de seqüestro ou assalto. Pedido de resgate Os irmãos foram vistos pela última vez na segunda-feira, quando foram levar um fogão no povoado Sapucaia, distante oito quilômetros da cidade. Os parentes ficaram sem notícias por toda a noite e madrugada. Na terça-feira, um telefonema para o pai, pastor Viriato, assustou a família, pois um homem afirmava que eles haviam sido seqüestrados e queria um resgate de R$ 120 mil. Apesar de o suposto seqüestrador exigir o afastamento da polícia do caso, o delegado continuou investigando e, com o apoio da Guarda Municipal, localizou o veículo Fiat Strada, placa MUW 7549/AL, que era dirigido por Elizafan. O carro estava todo revirado e objetos pessoais das vítimas tinham sumido, o que reforçava a hipótese de seqüestro. No entanto, na manhã de ontem, quando realizavam buscas próximo ao local onde o carro foi encontrado, os guardas municipais terminaram achando também os corpos. Tiros na cabeça As vítimas estavam com as mãos amarradas e apresentavam escoriações por todo o corpo. Elizafan e sua irmã Eliane tinham sido executados com tiros na cabeça há, pelo menos, 24 horas. Ou seja, eles foram seqüestrados e executados, fato que descarta o seqüestro para fins de resgate. O chefe da Guarda Municipal, Urânio Correia, declarou que o clima de comoção que tomou conta da cidade desde o desaparecimento dos evangélicos levou sua equipe a trabalhar sem descanso em busca de pistas dos irmãos. Primeiro foi o carro, achado na Fazenda Gavião, perto da estrada vicinal que liga Atalaia ao povoado Sapucaia. Pensamos, então, que os corpos pudessem estar próximos, alegou ele. A Gazeta esteve ontem em Atalaia e ouviu de moradores que o clima de violência na cidade tem causado medo e apreensão. Assaltos a comerciantes e a residências têm sido constantes. Na terça-feira, o neto de um vereador quase foi seqüestrado por três homens, num Escort, quando deixava o colégio. Além disso, os assaltos e roubos de veículos são diários, denunciou um popular, que não quis se identificar. ### Polícia sem pistas dos matadores Policiais civis, militares e guardas municipais de Atalaia realizaram buscas de carro, moto e até mesmo a pé, contando com a ajuda de pessoas residentes na região onde foram achados os corpos dos irmãos, inclusive alguns agricultores sem-terra de um acampamento do município. Não dava para acreditar que pessoas tão boas estavam mortas, afirmou dona Margarida dos Santos, pedindo piedade a Deus pelos matadores. Os filhos do pastor Manoel, de 81 anos, que comemorou seus 50 anos de ministério no último domingo, cresceram na congregação. Eles trabalhavam na igreja Assembléia de Deus de Atalaia e ajudavam a comunidade local. Não tinham outra atividade senão servir à igreja e aos irmãos, revelou Elieser Almeida de Lima, 58, irmão das vítimas. Crime bárbaro Segundo ele, o que ocorreu não tem explicação. Foi uma barbaridade que não se pode acreditar, principalmente porque meus irmãos eram pessoas nascidas na igreja e para a igreja, declarou Elieser. Ele crescenta que não existem suspeitos. Elieser disse, ainda, que faz parte de uma família de 12 irmãos, cinco homens e sete mulheres, todos evangélicos. A única hipótese é que eles foram vítimas de assaltantes, pois o carro estava todo revirado. Eles vasculharam tudo, completou Elieser. ### Bloqueio de acesso durou seis horas Após seis horas de protesto pela morte dos irmãos evangélicos Elizafan e Eliane, os moradores resolveram atender aos pedidos da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do delegado Tarcísio Vitorino e desbloquearam o acesso pela BR-316, no começo da tarde de ontem. O clima na cidade é tenso e os moradores continuam exigindo justiça no caso dos irmãos encontrados mortos a tiros, ontem de manhã, em Atalaia. A delegacia regional da cidade já investiga o caso, mas ainda não tem suspeitos do crime. Depois de passarem por necropsia, no Instituto Médico Legal Estácio de Lima, os corpos foram trasladados para o cemitério Parque das Flores. O delegado Tarcísio Vitorino concorda com a família das vítimas: os irmãos foram atacados por assaltantes, mas ao reconhecerem os bandidos foram executados. O telefonema do suposto seqüestrador tinha o objetivo de despistar a polícia. Vitorino já determinou a abertura de inquérito e iniciou as investigações do duplo crime. |EF E MR ### Morte de irmãos provoca revolta e medo em Atalaia Comoção, revolta e o medo da impunidade, foi assim que os moradores da cidade de Atalaia - distante 48 km da capital - reagiram ao rapto e morte dos irmãos Elizafan Almeida de Lima, 39 e Eliane Almeida, 41, cujo desfecho ocorreu ontem, quando os corpos foram encontrados, depois de dois dias de desaparecimento. A descoberta dos corpos trouxe à tona um sentimento de indignação. Fomos pegos de surpresa com essa onda de violência. Mas é preciso reagir, porque as vítimas poderiam ser qualquer um de nós, comentou o comerciante de Atalaia José Antônio dos Santos. Nas praças e nas ruas do centro o assunto comum era o crime e o sofrimento da família. A Gazeta encontrou uma cidade assustada e, ao mesmo tempo, em busca de justiça. O clima pacato, ontem, deu lugar a olhares desconfiados e intimidativos. Ao mesmo tempo, todos falavam com facilidade, num tom de revolta. Os dois eram pessoas conhecidas e nunca tiveram problemas com ninguém. Por isso a revolta é ainda maior, comentou um senhor, que não quis se identificar. Crítica Em meio à revolta provocada pelas mortes, populares não hesitaram em criticar a polícia. Segundo os moradores, nos últimos anos Atalaia vem apresentando um movimento crescente de incidentes violentos. A AL-101, que corta a cidade, foi responsável pelo progresso, mas também expõe os moradores. Ela é considerada um via de acesso para outros municípios. São muitas estradas de barro, comentou Pedro Silva, motorista. Ao mesmo tempo, os moradores da cidade acreditam que podem contribuir para a elucidação das mortes, porque em Atalaia muita gente se conhece, acredita uma amiga da família. Com fé em Deus alguém deve ter visto alguma coisa que leve aos culpados, observou a aposentada Cícera Alves Pereira. Os moradores já demonstraram que estão dispostos a reagir. Ontem, quando se espalhou a informação de que os corpos haviam sido encontrados, rapidamente foi articulado um protesto que interditou a via de acesso ao município. MR/EF ### Sepultamento reuniu família evangélica A mobilização que tomou conta da cidade de Atalaia, na manhã de ontem, se transferiu para o cemitério Parque das Flores, onde foram velados os corpos dos irmãos Elizafan e Eliane Almeida. Parte dos moradores da cidade seguiu em ônibus e carros particulares para fazer a última homenagem. Senhoras, jovens e membros da igreja Assembléia de Deus se aglomeraram para ter acesso aos caixões, numa das capelas. Ao lado do corpo do marido, Micheline Almeida parecia não acreditar que ficara viúva depois de quatro meses de casamento. Ela foi amparada pela cunhadam Eliene Almeida. As duas se apoiavam na fé para encontrar forças de encarar a realidade. Ah! Deus guarda meus irmãos. Só fizeram o bem, - dizia. Exemplo A fé demonstrada pelos irmãos segue o exemplo do patriarca da família, o pastor jubilado Manoel Viriato Almeida, 81. Com fisionomia serena, ele aceitava a perda dos filhos, confiante no conforto divino. A justiça divina é que vai se encarregar disso. Deus nos dará o conforto e a cura para essa dor, disse o pastor, descartando o sentimento de vingança. Ele foi bastante cumprimentado durante o velório. Praticamente todos os líderes da igreja e pastores das cidades vizinhas compareceram para ampará-lo. Trabalho Elizafan era conhecido como aquele que, na igreja, assumia a tarefa de ir buscar os fiéis mais idosos ou com problemas para se deslocar aos cultos. Ele era uma pessoa que só pensava em servir. Nunca se meteu em confusão. De repente é morto dessa forma, onde aparentemente não roubaram nada, comentou Nádia Valéria dos Santos, amiga da família. Elias Almeida também não compreende como os irmãos foram cair nas mãos de bandidos. Ele não tinha inimizades, contou. A Gazeta apurou que os pastores podem se reunir com o secretário de Defesa Social Robevaldo Davino para cobrar uma apuração severa sobre as mortes. Para isso, eles vão contar com o apoio de parlamentares municipais e estaduais que se elegeram com os votos da igreja. Estamos tristes, porque somos um segmento que prega a paz, observou o pastor Orisvaldo Nunes. Entre os populares o sentimento também era de perda. Todos viram os membros da família do pastor Manoel Viriato crescer na cidade. Isso explica a multidão que compareceu para acompanhar o sepultamento.|MR e EF