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Crimes que envolvem pobres ficam sem solu��o

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REGINA CARVALHO Repórter Três vítimas pobres, onze delegados e casos emblemáticos de violência que podem cair no esquecimento. Uma vendedora de jóias, uma adolescente que fabricava fogos de artifício e um eletricista. Os assassinatos de Macléia dos Santos, Juliana Cassiano e José Joaquim foram investigados pela Polícia Civil, chegaram à Justiça, mas até hoje ninguém respondeu pelos crimes. Os dois primeiros foram mais recentes, aconteceram este ano e o último deles foi em 1999, a tortura e morte do eletricista. Nesse caso, o inquérito policial foi recomeçado, depois da exigência do Ministério Público Estadual (MPE) que pediu novas diligências. Com base nesses crimes considerados insolúveis, e aqueles que compõem o crime organizado é que na semana passada, juízes decidiram que vão agilizar as investigações. Inclusive com a criação de uma força-tarefa formada pela Justiça, Ministério Público e as polícias Federal e Estadual na tentativa de elucidar os casos. De vida simples, as vítimas tiveram, de forma direta ou indireta, algum tipo de ligação com pessoas influentes ou que ocuparam cargos de destaque. Os delegados que apuraram os casos admitem que esse detalhe foi decisivo nas investigações. Um desses foi o seqüestro e morte de Macléia dos Santos, em fevereiro deste ano. Ela teve um caso amoroso e um filho, que hoje tem dois anos, com o juiz de Anadia, Willamo Lopes. A esposa do magistrado, a fazendeira Amália Miranda Lopes, e um amigo da família, o mototaxista José Sérgio de Azevedo, foram apontados respectivamente como autores intelectual e material do crime. Ele chegou a ficar preso alguns dias na delegacia de Atalaia. Rodízio O delegado regional de São Miguel dos Campos, Antônio Carlos Lessa, que presidiu o inquérito policial, pediu a prisão preventiva deles no início do mês de agosto deste ano, mas até agora a prisão deles não foi decretada pela Justiça. Além de Lessa, os delegados Ednaldo Marques e Tarcísio Vitorino também apuraram o caso. Dois deles eram de Atalaia, onde Macléia foi seqüestrada. ### Juízes, bicheiro e vereador tentam desqualificar crimes Em depoimentos prestados à polícia, testemunhas relataram que Macléia foi ameaçada inúmeras vezes por Amália, que tem juntamente com o marido forte influência na região de Atalaia. ?Fiz a minha parte, agora é com a Justiça?, ressalta o delegado Antônio Carlos Lessa, um dos quatro a cuidar do caso. Bicheiro Juliana Cassiano da Silva, 16 anos, foi brutalmente assassinada em abril deste ano. Adolescente pobre que ajudava a mãe na fabricação de fogos de artifício, ela foi estrangulada, possivelmente estuprada, e seu corpo jogado às margens do Rio Mundaú, em Murici. O delegado Élvio Brasil pediu a prisão de Fausto Cardoso Batista Neto, sobrinho do bicheiro Plínio Batista, Cássia dos Santos e Jadson Cansanção, decretada em seguida pela juíza Aída Cristina Antunes. Depois da decretação, Faustinho e Rita fugiram da cidade e até hoje a polícia não tem pistas dos acusados. Jadson chegou a ficar recolhido no Presídio Cirydião Durval, mas agora aguarda o processo em liberdade. Faustinho é filho do ex-vereador de Murici, Fausto Cardoso e sobrinho do bicheiro Plínio Batista. A família do acusado nega o envolvimento dele no crime. |RC ### Rodízio de delegado em casos insolúveis O promotor de Justiça da Comarca de Murici, Napoleão Franco, admite que o processo sobre a morte de Juliana pode parar. ?Ele (Faustinho) tem que ser intimado pessoalmente, porque senão o processo pára?, lembra Franco. O assassinato de Juliana foi apurado por dois delegados: Robson Coutinho e Élvio Alves Brasil. O eletricista José Joaquim de Araújo Filho foi morto em julho 1999, depois de preso sob acusação de que teria assassinado um policial civil. Ao sair do presídio, na época do São Leonardo, denunciou ter sido torturado dentro do 1º Distrito Policial (DP) por cinco policiais civis e logo depois foi assassinado a tiros, de madrugada, numa vila onde morava no bairro de Ponta Grossa. O caso passou pelas mãos de três delegados: Arnaldo Soares de Carvalho, Dênisson Albuquerque e Cícero Rocha e teve repercussão nacional. Com a volta do inquérito para a realização de novas diligências, a pedido do Ministério Público Estadual (MPE), mais três delegados foram designados especialmente para apurar o caso: Dênisson Albuquerque, Reginaldo Assunção e Fernando Arthur. O promotor de Justiça Marcus Mousinho lamenta que os policiais civis, acusados de terem torturado e executado o eletricista, estejam trabalhando normalmente e diz que o pedido de novas diligências deve-se ao fato de no inquérito inicial não constar os autores pelo crime. Os policiais civis Ivan Augusto de Lima, Jackson Suica dos Santos, Jarison dos Santos Albuquerque, Themildo Duarte das Trevas e José Mário Ferreira Lessa, que na época atuavam nos 1º e 3º distritos e na Delegacia de Menores, foram acusados de torturar José Joaquim. O processo foi anulado, segundo o advogado dos agentes policiais. ?Não existiam provas contra eles em relação à conduta de tortura. Inclusive os policiais foram inocentados pela Corregedoria?, relatou o advogado Welton Roberto. O primeiro a investigar a morte de José Joaquim, o delegado Arnaldo Soares de Carvalho, que hoje está no 3º Distrito Policial (DP), foi designado em caráter especial, na época, para apurar o caso. Seis anos depois do assassinato, ele diz que seu trabalho foi prejudicado. O delegado não conseguiu avançar nas investigações e nem mesmo indiciar os responsáveis pela tortura e homicídio, segundo ele, por falta de provas. RC ### Eletricista foi assassinado injustamente, diz delegado ?Não existiam testemunhas que denunciassem, por isso eu tinha que partir para a prova técnica. No caso a perícia nas armas dos policiais que foram apreendidas. Para minha surpresa as armas que foram enviadas para Brasília e ficaram quase um ano por lá, voltaram sem ser periciadas?, conta o delegado Arnaldo Carvalho, sobre a morte de José Joaquim. Anos depois do crime, as 28 armas foram periciadas em Alagoas, mas o resultado deu negativo. Delegado desde 1986 e um dos que investigaram o assassinato da deputada federal Ceci Cunha, na conhecida chacina da Gruta, Arnaldo Soares de Carvalho diz que José Joaquim foi acusado e preso injustamente e que ?pelo que tudo indica? policiais civis realmente foram os responsáveis pela morte do eletricista. Polêmica O assassinato de Macléia foi investigado inicialmente em Atalaia. Como o corpo da vendedora de jóias foi encontrado em São Miguel dos Campos, passou a ser apurado pela regional. Essa mudança gerou polêmica. O promotor de Justiça, da Comarca de São Miguel dos Campos, Nilson Miranda alegou que não ofereceu denúncia porque entende que a competência é da promotoria de Atalaia. ?A investigação foi iniciada em Atalaia e o seqüestro da vítima também foi lá?, ressaltou o promotor. De acordo com ele, o delegado Antonio Carlos apenas deu seqüência ao inquérito. ?O mais coerente é que o inquérito seja julgado em Atalaia?, completou Miranda. RC ### Caso Macléia: uma novela que já vai para o 4º delegado Já o assassinato da jovem Macléia dos Santos vai para o quarto delegado do inquérito. A juíza da Comarca de São Miguel dos Campos Nirvana Melo confirmou que o processo está em suas mãos. ?Vou resolver ainda. Estou avaliando?. Nirvana enfatizou que o crime foi bárbaro e que o mínimo que se pode fazer nesse caso ?é fazer Justiça?, ressaltou. A dona-de-casa Inês dos Santos, mãe de Macléia dos Santos, 23 anos, ainda vive angustiada quase dez meses depois da morte da filha. O pequeno Wagner de apenas dois anos foi registrado pelo pai, o juiz Willamo Lopes. Morando em outra casa, em povoado de Atalaia, ela sobrevive dos R$ 200 que o magistrado dar mensalmente para o seu sustento e vive em pequena casa alugada pelo valor de R$ 80, também pago pelo Willamo. Quase todos os dias a mãe de Macléia e o irmão Marciel vêem o mototaxista José Sérgio, apontado como autor material do crime. O desempregado Marciel dos Santos, 21 anos, se emociona ao falar sobre o desaparecimento da irmã. ?Já pensei várias vezes em me vingar, mas quando penso na minha mãe e no meu sobrinho eu tiro isso da cabeça?, reforça. ?Essa é uma coisa que eu morro e vou levar comigo?, lamenta a mãe, que impossibilitada de trabalhar por causa do neto, é obrigada a viver do pouco dinheiro que o juiz desembolsa, o valor irrisório de R$ 200, diante do salário de magistrado de R$ 13 mil. |RC

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