Militar � acusado de atirar em sem-teto
Regina Carvalho Repórter Mais de quatrocentas famílias sem-teto ligadas ao Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), que estão acampadas na entrada do complexo Benedito Bentes desde o dia 23 de fevereiro, prometem continuar ocupando a área que
Por | Edição do dia 07/03/2006 - Matéria atualizada em 07/03/2006 às 00h00
Regina Carvalho Repórter Mais de quatrocentas famílias sem-teto ligadas ao Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), que estão acampadas na entrada do complexo Benedito Bentes desde o dia 23 de fevereiro, prometem continuar ocupando a área que pertence à Companhia de Administração de Recursos Humanos de Patrimônio (Carhp). A permanência deles gerou conflitos. Na noite da última sexta-feira, o policial militar João Alves, que estaria embriagado, atirou nos acampados, ferindo o adolescente J.A.S, 17, que é catador. Ele levou dois tiros de raspão, nas costas e no braço. O PM está detido no presídio militar, no Trapiche da Barra. Uma das lideranças do movimento, Eliane Silva, informou que a saída dos sem-teto interessa ao prefeito comunitário do Benedito Bentes, Silvânio Barbosa, e chegou a levantar suspeitas contra o líder comunitário. O Silvânio disse que a nossa ocupação foi um ato político. Qual o interesse dele nessa área? não entendo. Acho tudo isso muito estranho. Só vamos sair daqui quando derem casas para a gente morar, declarou Eliane Silva. Ela informou ainda que a área, hoje ocupada pelos sem-teto, era ponto-de-venda de drogas. Os sem-teto contam que no dia do atentado o policial militar chegou de bicicleta, embriagado, e perguntou pela liderança do acampamento. Uma viatura que passava pelo local abordou o PM, mas não revistou uma mochila que João Alves transportava e onde estava o revólver. Em seguida, ele deu quatro disparos, que atingiram um companheiro. Liguei quatro vezes para o Copom comunicando o fato. Entretanto, somente 20 minutos depois mandaram uma viatura, relatou Eliane Silva. Segundo os sem-teto, mesmo depois que o militar foi levado à Deplan II, no Tabuleiro do Martins, as ameaças continuaram. Ele disse na frente do delegado que se tivesse uma metralhadora tinha matado todo mundo, disse a líder do movimento, que denunciou que um veículo continua rondando o acampamento de forma suspeita. O diretor da Carhp, Douglas White, confirmou que foi pedida a reintegração de posse na última sexta-feira. Edson Vilela, chefe do Setor de Polícia Disciplinar da Corregedoria da PM, disse que até agora não recebeu ofício sobre a prisão do PM, mas que deverá abrir sindicância para apurar o envolvimento do militar. O delegado Cícero Rocha, que estava de plantão no dia do conflito, informou que apesar de o militar negar a autoria dos disparos, várias testemunhas o reconheceram. João Alves, que foi preso em sua residência no Conjunto Salvador Lyra, foi indiciado por lesão corporal e disparo de arma em via pública. O prefeito comunitário do Benedito Bentes, Silvânio Barbosa, negou envolvimento no atentado. Mas revelou que solicitou ao governo que não doe o terreno à prefeitura para construção de casas. A presença deles tem provocado descontentamento da população. Fui procurado várias vezes por moradores do conjunto. O Benedito Bentes já sofre com muitos problemas, disse. ### Famílias acampam em praça para cobrar casas do governo Fátima Almeida Repórter A Praça dos Martírios se transformou em acampamento dos sem-teto, desde a manhã de ontem. Eles desceram em passeata, da Cidade de Lona, no Eustáquio Gomes, para cobrar do governo estadual um terreno e condições para construir moradia digna e definitiva para as 604 famílias que há mais de sete anos moram provisoriamente em barracos de lona. Em carroças, eles levaram sacolas para fixar acampamento na praça, até que o problema seja solucionado. Enquanto a comissão negociava dentro do Palácio, do lado de fora o clima quente foi amenizado com um banho na fonte luminosa. Os animais mataram a fome com a grama da praça. A mobilização foi organizada pela União Nacional por Moradia Popular. De acordo com Jorge José da Silva, um dos líderes da manifestação, muitas promessas já foram feitas e poucas cumpridas. Segundo ele, 90% das pessoas que moram lá são catadores de lixo e outros fazem bico para sobreviver. Silva disse que se o governo assegurar os lotes e o material, eles entram com a mão-de-obra. No mês passado, os sem-teto foram recebidos por representantes do governo e, segundo Jorge, foram prometidas máquinas para limpar a área. Mandaram equipamentos que não fazem esse trabalho. O pessoal está se sentindo enganado, diz. O representante da Agência de Habitação e Urbanismo, Afrânio Vergetti, estranhou a marcha. Temos tido um bom canal de negociação. Se a máquina foi errada, eles poderiam ter avisado, disse. A reivindicação dos sem-teto é antiga. O problema maior é que a área pertence à Carhp e está empenhada numa ação trabalhista da extinta Cohab. Segundo Vergetti, a área está avaliada em R$ 4 milhões e o governo espera uma proposta da advogada dos trabalhadores da Cohab, para tentar um acordo em relação ao valor. Ele destacou que já existem recursos disponíveis, da Caixa Econômica e de um convênio com o Banco Família Paulista, que possibilitaria a construção das moradias, mas tem que ser resolvida, primeiro, a questão do terreno.