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Nº 5759
Polícia

Pol�cia suspeita de nova gangue fardada

REGINA CARVALHO Repórter O assassinato do empreiteiro José Maria dos Santos, 55 anos, mais conhecido como “Araújo”, pode ter envolvimento com uma nova gangue fardada que atua em Alagoas. A constatação partiu, ontem, do delegado da Roubos e Fur

Por | Edição do dia 22/03/2006 - Matéria atualizada em 22/03/2006 às 00h00

REGINA CARVALHO Repórter O assassinato do empreiteiro José Maria dos Santos, 55 anos, mais conhecido como “Araújo”, pode ter envolvimento com uma nova gangue fardada que atua em Alagoas. A constatação partiu, ontem, do delegado da Roubos e Furtos de Veículos (DRFV), Carlos Alberto Reis, que preside o inquérito policial sobre o crime, ocorrido em fevereiro deste ano. “Essa é uma história confusa, com muita gente envolvida. Parece mais uma nova gangue fardada. Mas vamos continuar investigando”, diz o titular da especializada. Segundo levantamento da polícia, a trama contou com a participação de três militares. Eles estão detidos no presídio militar, por determinação dos juízes que compõem o Núcleo de Combate ao Crime Organizado (NCCO). O corpo do empreiteiro foi exumado ontem, no Cemitério Divina Pastora, em Rio Novo, onde estava enterrado como indigente, e foi sepultado à tarde, no Cemitério Municipal de Murici, distante 51 quilômetros de Maceió (ler matéria abaixo). O sepultamento foi acompanhado por familiares, amigos e conhecidos de José Maria dos Santos. Segundo o delegado Carlos Alberto Reis, as investigações policiais, que inicialmente se concentravam no desaparecimento do empreiteiro, fizeram desencadear o surgimento de outros crimes como o de roubo de carros e pistolagem, o que reforça, de acordo com ele, a tese de que um grupo esteja envolvido em outros crimes no Estado. Para o juiz Sóstenes Alex Andrade, a investigação policial deve apontar se os militares têm ou não envolvimento em outros crimes em Alagoas. Entretanto, segundo ele, o fato de os militares agirem em grupo e a forma como executaram a vítima chamaram a atenção do Núcleo. “Quando fomos procurados pelos parentes da vítima pedimos empenho da polícia para investigar o caso. A forma como eles agiram, despertou, sim, nossa atenção. Mas não dá para falar agora em gangue fardada”, diz o magistrado. A última gangue fardada desbaratada em Alagoas, na década de 90, levou vários policiais à prisão. A Corregedoria Geral da Polícia Militar (PM) instaurou ontem sindicância para apurar o caso e confirmou que os militares Jairo Dantas, Edilson Correia e Antônio Rita devem permanecer presos por 30 dias. Entretanto, a expulsão dos militares vai depender das investigações feitas pela Polícia Civil. “A prisão deles foi determinada pelos juízes do Núcleo de Combate ao Crime Organizado. Primeiro vem a sindicância, mas ainda faltam informações mais robustas sobre o envolvimento deles nesse crime. Temos apenas o mandado de prisão. Se ficar comprovado, eles vão para o conselho de disciplina e poderão ser expulsos”, informou o corregedor-geral da PM, coronel Cláudio Omena. Dos três militares citados no assassinato do empreiteiro, o soldado Jairo Dantas já havia respondido sindicância na polícia em 2004. O coronel Omena lembra que o soldado foi punido pelo não-pagamento de várias parcelas de aluguel de um imóvel onde morava. “Ele ficou 10 dias numa prisão administrativa, porque passou três meses sem pagar aluguel e o locatário veio aqui no quartel para reclamar. Os outros dois policiais não responderam à sindicância, pelo menos não no tempo em que estou aqui. Não sabemos do envolvimento deles em outros crimes”, acrescentou o corregedor-geral da PM. Justiça Os parentes da vítima pediram ontem à polícia que apresentasse à sociedade os soldados citados na morte de “Araújo”. “Eles deveriam ser expulsos e julgados. A sociedade precisa saber quem são eles. Por que mostraram os outros e não eles?”- questionou Maria Helena dos Santos, irmã do empreiteiro. O diretor-geral da Polícia Civil, delegado Robervaldo Davino, declarou que o presidente do inquérito, no caso o delegado Carlos Reis, deve pedir a ficha dos policiais citados por envolvimento no crime. “Não sei de nada de concreto no que se refere ao envolvimento deles”, disse Davino. Para Maria Helena, seu irmão foi vítima de latrocínio. “A nossa família não tem envolvimento com delitos. Acho que meu irmão foi vítima de latrocínio. Ele mexia com muito dinheiro. Era um empreiteiro de usinas. Quero que a mulher que vivia com ele e os outros acusados que participaram fiquem na prisão por trinta anos”, disse, cobrando empenho das autoridades policiais que investigam o assassinato. ### Exumação confirma corpo de empreiteiro Dois irmãos e outros parentes do empreiteiro, mais conhecido como “Araújo”, acompanharam ontem a exumação do cadáver que estava enterrado no cemitério Divina Pastora, no Rio Novo, destinado a indigentes. A grande movimentação chamou a atenção também de populares. A exumação foi acompanhada pelo diretor-geral da Polícia Civil, delegado Robervaldo Davino, o sub-diretor Roberto Lisboa e o delegado Carlos Alberto Reis. Visivelmente emocionados, os parentes constataram que os restos mortais realmente pertenciam ao empreiteiro. O médico-legista Kléber Magalhães confirmou que a arcada dentária pertencia à vítima. “Retiramos material para fazer exame de DNA apenas para oficializar e não termos problemas futuros caso os culpados neguem a autoria do crime, mas o corpo pertence a ele mesmo”, afirmou o médico-legista, que confirmou ter sido por asfixia a morte da vítima. O delegado Carlos Alberto Reis, que preside o inquérito policial, declarou que a exumação, autorizada pelo Núcleo de Combate ao Crime Organizado, era fundamental para provar a materialidade do crime. “Era preciso haver a confirmação de que o corpo era dele”, ressaltou Reis. Os parentes da vítima já diziam não ter mais dúvidas de que o corpo era do empreiteiro, mesmo antes da exumação. “Vimos fotos da perícia e reconhecemos”, contou a irmã de “Araújo”, Maria Helena dos Santos. Fláusio da Silva Santos, também irmão, que tem problemas de saúde, foi ao cemitério e saiu transtornado. “Eu precisava ver meu irmão pela última vez”, declarou. Para Maria Helena, “Araújo” foi vítima de latrocínio, pois movimentava muito dinheiro. Ela contou que o irmão vivia há um ano com Maria José da Silva, a “Nena”, presa na Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos (DRF) por envolvimento no crime. “Nós sabíamos pouco sobre ela. É uma pessoa vulgar e a família não acompanhava a convivência deles. A aproximação com ela só veio com a morte do meu irmão”, contou Maria Helena. Frieza De acordo com a irmã da vítima, “Nena” chegou a ir a Recife (PE) e Aracaju (SE), com parentes do empreiteiro, para tentar localizá-lo. Ela também teria ido ao Instituto Médico Legal (IML) de Maceió, quando o corpo já estava no local, no início do mês passado, e negado que ele pertencia a “Araújo”. “Ela mostrava tristeza pelo desaparecimento do meu irmão. É uma atriz. Foi ao IML e disse que o corpo não era dele. Agiu com muita frieza”, lamentou Maria. “Se não tivéssemos achado o corpo a dor seria maior. Quero Justiça, que os culpados paguem pelo que fizeram”, disse a irmã da vítima. O corpo do empreiteiro foi enterrado no fim da tarde de ontem em cemitério do município de Murici, sob comoção e indignação de familiares e amigos. |RC ### Valor contratado por crime não foi pago O empreiteiro José Maria dos Santos foi assassinado no dia 8 de fevereiro com a ajuda da mulher, a sacoleira “Nena”. Segundo informação da polícia, ela colocou um medicamento, possivelmente Rivotril, no suco da vítima, para facilitar a ação dos assassinos, enquanto eles estavam na casa dele, no conjunto Jardim Saúde, Tabuleiro do Martins. A sacoleira contou que a morte foi tramada pelo amigo José Carlos de Almeida Santos, que está foragido e, segundo informações da polícia, foi visto na cidade de Maragogi. Para a polícia, eles podem ter um caso amoroso, que pode ter sido descoberto pelo empreiteiro. O policial Jairo Dantas teria sido contratado por José Carlos para planejar o crime, praticado pelo ex-segurança Marcelo Santos e o técnico em refrigeração Luiz Aquino. Luiz, Marcelo e Nena estão presos desde o último domingo, na Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos (DRFV), onde revelaram detalhes do crime. Segundo eles, o empreiteiro, no dia em que foi assassinado, estava levou socos e coronhadas na cabeça, ainda em casa, quando foi dopado pela mulher. Nena teria cortado o fio do telefone para amarrar e asfixiar o marido, que foi jogado numa ribanceira na Forene. O caso veio à tona depois que o valor acertado pelo crime, R$ 35 mil, não foi pago. A polícia chegou aos suspeitos por meio do PM Jairo, que confessou a participação no crime. O militar Antônio Rita também foi apontado como suspeito. Dois ferros-velhos, na Ponta Grossa e Levada, de propriedade de Marciel Gomes da Silva, foram lacrados por determinação da Justiça. Marciel comprou o veículo da vítima por R$ 500. O advogado do proprietário dos estabelecimentos esteve ontem na DRFV e confirmou a compra do veículo Celta preto do empreiteiro. “Ele cometeu o crime de receptação. Isso ele assume, mas não tem nada a ver com a morte. Vou apresentá-lo à polícia”, declarou o advogado José Carlos de Melo Rocha. Ele disse ainda que Marciel já vendeu o carro a uma pessoa identificada como “Zeca”, que teria sido assassinada há pouco tempo. O delegado Carlos Alberto Reis informou que será feita uma perícia nos dois ferros-velhos, na tentativa de identificar onde está o veículo. Alexandre Silva, também preso, comprou oito cheques, cada um por R$ 30, a Luiz Aquino, apontado como um dos assassinos “Araújo”. Os cheques negociados são de propriedade do empreiteiro. A polícia informou, ainda, que a vítima emprestava dinheiro a juros. Um dos fatos que chamaram a atenção durante as investigações é que os cheques, levados pelo policial Jairo a Luiz Aquino, foram trocados no dia em que “Araújo” foi executado. José Maria foi assassinado no dia 8 de fevereiro e o corpo encontrado numa mata entre Rio Largo e Satuba, no dia 3 de março, e examinado, na ocasião, pelo legista Antônio Carlos Xisto. |RC

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