Polícia
Cemit�rio clandestino pode ser de meninos de rua

ANA MÁRCIA Alguns dos corpos encontrados semana passada, num cemitério clandestino, numa mata fechada em Coqueiro Seco, pode ser de meninos de rua desaparecidos. A afirmação é do diretor do Projeto Catarse, Walmar Buarque, entidade que, ano passado, denunciou o seqüestro e o desaparecimento de meninos de rua em Maceió. É prática constante o desaparecimento desses menores e nós queremos uma investigação sobre os casos, utilizando o próprio laboratório para exames de DNA, da Ufal, ou daqui a algum tempo iremos encontrar um novo depósito de cadáveres, disse Walmar. Segundo Walmar Buarque, os jovens que freqüentam o Catarse conhecem o local das desovas. Os meninos dizem que se os policiais descerem a grota podem encontrar novos corpos na região, porque a área só era desconhecida da imprensa e não há intenção de descer o morro, ressaltou Walmar Buarque. Para Walmar, há uma situação de confronto entre o descumprimento da lei e a necessidade de a população se proteger. A tentativa de fazer Justiça vem de grupos militares ou paramilitares, grupos de extermínio, às vezes, até mesmo entre a comunidade, porque aquele cara que cometeu um pequeno crime, paga fiança ou é liberado depois de algum tempo, voltando a incomodar a sociedade com novos crimes. Aí é dada a sentença: fulano tem de morrer, afirmou Walmar, ressaltando haver uma conivência da sociedade em querer eliminar essas pessoas e uma inércia governamental com ações sociais, onde só sobra violência. Na sua opinião, o que está ocorrendo em Maceió hoje é o que houve com o Rio de Janeiro há 20 anos: a ampliação das favelas, sem a devida atuação social do governo. O domínio passa então a ser dos traficantes. Estamos cometendo os mesmo erros em Alagoas: as áreas de pobreza e miséria estimulando grupos, guetos de proteção particular, comentou. Ele disse que dois meninos do Projeto Catarse estão sem poder freqüentar uma escola no Jacintinho, por impedimento de gangues, apenas por eles serem do Catarse. Walmar explica que não se trata de fazer escadarias, mas quadras esportivas, oferecer escolas, professores de educação física. Segundo ele, 56 meninos do Catarse alfabetizados com recursos do Bolsa-Alimentação estão sem conseguir uma vaga na escola. Também falta profissionalização dos nossos jovens e documentos. Não há clubes sociais e nossos centros comunitários foram loteados por cabos eleitorais, falou, ao ressaltar que é preocupante a forma benevolente e hipócrita como as crianças e adolescentes são vistos nos sinais de trânsito da cidade.