Polícia
Grupos de exterm�nio preocupam autoridades

O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos vai exigir do Estado a investigação dos atos do esquadrão da morte em Alagoas. O advogado Everaldo Patriota, vice-presidente da entidade, afirmou que os grupos de extermínio continuam ativos como nunca e que o aparecimento de um cemitério clandestino num matagal entre os municípios de Marechal Deodoro e Coqueiro Seco, onde foram encontrados os restos mortais de nove corpos e outras cinco ossadas, não é um fato isolado. Basta lembrar dos sete cadáveres de ala-goanos achados em Palmares (PE), no último mês de junho. Patriota advertiu que intenções e discursos não mudam a realidade de que estão acontecendo execuções sumárias no Estado. O que choca neste caso de Marechal são a intensidade e o número de vítimas encontradas, mas isso já vem ocorrendo em outras áreas com o aparecimento de um ou dois cadáveres, ou seja, as desovas em canaviais, que se tornaram constantes nos últimos sete meses. Segundo o advogado, o aparecimento de tantos cadáveres juntos demonstra a tranqüilidade com que agem os executores, ao ponto de fazerem execuções em massa. Esperamos que essa chacina não fique impune como as demais e que os corpos das vítimas não sejam sepultados sem identificação do ponto de vista médico legal, retrucou ele, alertando para o que aconteceu com as 32 ossadas encontradas num cemitério clandestino, localizado próximo ao complexo Benedito Bentes, no Tabuleiro do Martins. Até hoje, ninguém conseguiu identificar as vítimas. O representante do Conselho Estadual de Defesa dos Diretos Humanos informou que existem várias maneiras de se garantir uma identificação posterior dos corpos, tais como a radiografia da arcada dentária, se possível as impressões digitais e o DNA. A este respeito, Patriota destacou que o exame de DNA atualmente pode ser feito pelo laboratório forense da Universidade Federal de Alagoas. Cobranças Everaldo Patriota revelou que o Conselho, que representa a sociedade civil organizada, vai adotar a mesma posição que tomou quando da execução dos alagoanos em Palmares, ou seja: Oficiamos às autoridades competentes e vamos cobrar com intensidade a apuração disso, fato que considerou um absurdo. Ele lamentou a inexistência de estatísticas no Estado quanto a pessoas desaparecidas. As famílias procuram o IML, o Pronto-Socorro, as delegacias, mas não têm procurado o conselho, concluiu. O diretor do Instituto Médico Legal Estácio de Lima, José Bastos Barroso, afirmou que os corpos encontrados no cemitério clandestino de Marechal Deodoro serão necropsiados e que haverá a identificação do ponto de vista médico legal, inclusive com a coleta de material para exame de DNA. Ele ressaltou que os parentes de pessoas desaparecidas devem procurar à direção do IML de Maceió e agilizar uma possível identificação da vítima. De uma maneira, acrescentou ele, que não provoque tumulto com prejuízos para o bom andamento das atividades no órgão. Barroso admitiu que algumas das vítimas desovadas naquele local só serão identificadas através do DNA. A primeira família a procurar por um desaparecido foi do pescador Roberto Carlos Santiago Leal, que no dia 19 de fevereiro de 2002 foi seqüestrado de uma lanchonete, na Praia do Francês, em Marechal Deodoro, por quatro homens de boné num Fiat Uno, branco, que se diziam policiais. Juracéia, que tinha um relacionamento com a vítima, esteve no IML e solicitou o reconhecimento. Inclusive, ela já comunicou o aparecimento do cemitério à mãe da vítima, que mora no Rio de Janeiro. O serviçal do Estácio de Lima, José da Silva, conhecido por Toré, que está com o filho Manoel Messias Bonfim dos Santos, 34, desaparecido há duas semanas, também procurou o instituto na tentativa de localizar o filho entre os cadáveres resgatados do matagal, que fica na divisa dos municípios de Marechal Deodoro e Coqueiro Seco. Ele saiu com um grupos de amigos para uma ilha no Pontal e não voltou mais, frisou. Após determinar a realização da perícia no local e o recolhimento dos cadáveres para o IML, o diretor do Departamento Central de Polícia Civil (Decepoc), delegado Robervaldo Davino, decidiu que o delegado regional de São Miguel dos Campos, Antônio Carlos de Azevedo Lessa, assumisse o comando das investigações para apurar a chacina das mais de uma dezena de pessoas. A cúpula da Polícia Civil não admite a existência de grupos de extermínio no Estado e vai aguardar o andamento das investigações para fazer um pronunciamento oficial. Desde a década de 70, membros de grupos de extermínio agem impunemente em Alagoas. Naquela época, 22 cadáveres foram achados somente num dos cemitérios atribuídos ao esquadrão da morte, localizado no Tabuleiro do Martins, onde hoje existe o Distrito Industrial Luiz Cavalcante. Na década de 80, o principal cemitério foi descoberto em Ipioca, de onde foram retirados cerca de 12 esqueletos humanos. Em 1998, a Polícia Civil localizou um cemitério com mais de 30 ossadas num canavial próximo ao Complexo Benedito Bentes, no Tabuleiro do Martins. Até hoje, as vítimas não foram identificadas e nenhum dos envolvidos nos crime foi preso.