Lideran�as criticam baixaria e desempenho de candidatos
Com a campanha política em plena efervescência, as lideranças políticas e os eleitores, de modo geral, observam o desempenho de seus candidatos e classificam como repetitivo o discurso e estratégias utilizadas pela maioria para conquistar o eleitor. Está
Por | Edição do dia 01/09/2002 - Matéria atualizada em 01/09/2002 às 00h00
Com a campanha política em plena efervescência, as lideranças políticas e os eleitores, de modo geral, observam o desempenho de seus candidatos e classificam como repetitivo o discurso e estratégias utilizadas pela maioria para conquistar o eleitor. Está faltando investir mais no principal: passar credibilidade, desabafou Ronald Vital Rios, vice-presidente da Uveal, União dos Vereadores de Alagoas. Segundo ele, que não está disputando cargo nesta eleição, a maioria dos candidatos está repetindo a velha postura de disparar críticas aos adversários. É preciso mostrar propostas, argumentar o que pode fazer e dizer como vai fazer. Dessa forma há mais chance de conquistar o eleitor. O difícil é obter esta conquista difamando o outro ou contando mentiras mirabolantes que viram até motivo de risadas, comenta Ronald. Ele ressalta que a Uveal, enquanto entidade de classe, respeita a democracia e não fechou apoio a nenhuma candidatura, especificamente. Cada vereador é livre para votar e para trabalhar para quem quiser, dentro do seu partido ou coligação, frisou. Compromisso Na opinião do presidente da Câmara de Vereadores de Batalha, José Alves Neto, a campanha eleitoral está cheia de Salvador da Pátria. O povo está cansado desse discurso. O que se quer é acreditar na palavra dos políticos e este é o grande desafio de quem está na luta pelo voto. Recomendo que cada um mostre e prove o que já fez e o que pretende fazer, sem mentiras. Outra liderança política que também referenda a tese de que é preciso inovar na forma de conquistar o eleitor é José Lopes Silva, presidente da Câmara de Vereadores de Arapiraca. Vejo que a maioria dos candidatos está partindo para o ataque e isto não é bom. É preciso amadurecer a estratégia de campanha, direcionando a conversa com o eleitor para mostrar o programa de governo. Falta deixar mais amarrada a questão do compromisso em cumprir o que se está prometendo fazer. O povo quer saber como cobrar a execução do programa de trabalho apresentado em campanha pelos diversos candidatos. Percebo que a crise da falta de credibilidade nunca esteve tão evidente como agora. Por um lado, isto sinaliza para que nós políticos, de modo geral, os que estão em campanha e os que não estão, repensemos a prática e o discurso, frisou José Alves. Realidade partidária Para a professora de Sociologia e Política da Ufal, Ruth Vasconcelos, a dinâmica do processo eleitoral está causando certa preocupação, particularmente na esfera local, devido aos efeitos produzidos pela fragilidade e pela crise de representatividade dos partidos políticos no Estado. De certa forma, a situação não difere muito da realidade partidária em nível nacional. Paradoxalmente, essas eleições foram planejadas no sentido de realçar os partidos em detrimento das personalidades políticas que atuam sem qualquer vinculação organizada com partidos políticos, destaca Ruth. Democracia Ela observa que a consolidação da democracia exige um sistema partidário forte e estável, no entanto, temos clareza de que esta organicidade dos partidos não será constituída por Decreto, nem por Medidas Provisórias. A despeito disto, uma das regras eleitorais estabelecidas para esta eleição/2002 é a que exige a verticalização das alianças locais e nacionais, que provocou crises, ausências e problemas para muitos políticos que se recusaram a cumprir as determinações de seus partidos no campo das alianças locais e/ou nacionais. Exemplo desta realidade é o caso da senadora Heloísa Helena, candidata natural do PT ao governo do Estado, que se ausentou do processo por não aceitar a aliança local do PT com o PL. Esta decisão produziu um certo vazio eleitoral para os eleitores do PT, argumenta a professora. Esses exemplos mostram que nem mesmo entre os partidos de esquerda existe uma fidelidade partidária, problema que deverá ser encarado com seriedade por aqueles que acreditam na democracia e que não apostam em atuações personalistas que muitas vezes refletem interesses individuais e não da coletividade, disse Ruth. Representatividade De acordo com ela, a crise de legitimidade e representatividade dos partidos se expressa, dentre outras formas, no fato de que as opções do eleitorado não estão sendo feitas pela maioria a partir do critério da identidade política, mas por fatores de ordem pessoal, como por exemplo, algum tipo de compromisso particular, várias modalidades de clientelismo ou cobranças pessoais. O senso comum diz: o povo vota na pessoa e não no partido. Há uma verdade no que se fala, assim como uma gravidade nesta constatação. Pois, o exercício da política exige compromissos éticos com uma coletividade. A população precisa sentir-se representada, ouvida e acolhida pelos programas e propostas dos partidos políticos, e não ficar à mercê de propostas de candidatos que atuam em linha própria, com discursos personalistas que comprometem a própria lógica dos sistemas partidários, frisou a professora, acrescentando que o caráter essencialmente público e coletivo da atividade política precisa ser resgatado para que possamos romper com uma forma tradicional de fazer política, pautada no populismo e no clientelismo. Ela finalizou afirmando reconhecer que o eleitorado vive um momento difícil no exercício de sua cidadania, porque são poucas as candidaturas que apresentam uma coerência partidária, um discurso conectado com um projeto público e não pessoal, assim como são raros, mas existem, aqueles que estão comprometidos com a sociedade e se propõem a ocupar um cargo público com a seriedade e a gravidade que lhes são inerentes.